MANIPULAÇÕES? EXACTO!
O meu amigo Zé Luis escreveu-me:
”não queria deixar de comentar uma notícia que lí na Visão.
Quando eu pensava que sobre a questão da guerra no Iraque já tudo estava dito e escrito, eis que surge esta pérola:
Parece que numa entrevista à "Vanity Fair" Paul Wolfowitz se saíu com esta "Combinámos avançar com o tema das armas de destruição maciça porque era o único argumento com que toda a gente podia estar de acordo" mais à frente "A decisão de assim justificar o ataque foi pois tomada por razões burocráticas".
Penso que isto prova, mais do que a cretina arrogância da administração americana, o ridículo que foi a sua defesa por parte de alguns europeus, quer por directa ou indirectamente ganharem alguma coisa com isso (casos de alguns distintos colunistas da nossa praça), quer pela ingenuidade própria de quem na infância se habitou a vêr os cowboys como os bons e os índios como os maus nos westerns de segunda categoria e asim continuou ao longo da vida, com Hollywood assim como com a CNN e afins.
Nem valerá a pena comentar a encenação da operação de resgate de Jessica Lynch, agora desvendada, pois essas e outras manipulações já não me surpreendem.”
Sobre o assunto, e por preguiça, tomo a liberdade de ‘postar’ aquilo que João Noronha escreveu no seu Valete Fratres:
“MAIS UMA MANIPULAÇÃO JORNALÍSTICA: A ENTREVISTA DE WOLFOWITZ
Na passada semana, foi universalmente noticiada uma entrevista de Paul Wolfowitz em que este, ALEGADAMENTE, afirmava que a questão das WMD tinham sido apenas um pretexto burocrático para a guerra no Iraque.
Pois bem, esta notícia era MENTIRA.
Quem fizer o favor de ler a transcrição da entrevista, poderá verificar o seguinte:
Wolfowitz: No, I think it happens to be correct. The truth is that for reasons that have a lot to do with the U.S. government bureaucracy we settled on the one issue that everyone could agree on which was weapons of mass destruction as the core reason, but …there have always been three fundamental concerns. One is weapons of mass destruction, the second is support for terrorism, the third is the criminal treatment of the Iraqi people. Actually I guess you could say there's a fourth overriding one which is the connection between the first two.
A entrevista permite também destruir o mito da influência dos "neo-conservadores straussianos" sobre a Administração Bush.
Fico à espera de ver o desmentido nos media portugueses...”
Desmentido esse, meu caro Zé Luis, que o Público já fez (como o tinha já feito, também, o The Guardian).
Transcrevo, também, o editorial de José Manuel Fernandes, sobre a questão:
Wolfowitz e a imprensa
"Afinal é tudo muito simples. A existência de armas de destruição maciça no Iraque no Iraque foi apenas um pretexto para a guerra, já que o motivo principal para a intervenção foi o país "nadar em petróleo". Paul Wolfowitz, sub-secretário da Estado da Defesa dos Estados Unidos, disse-o, ou confessou-o, pelo que todas as dúvidas estão dissipadas. Foi tudo uma maquinação e uma grande mentira, não é verdade?
Não, não é verdade. E não é verdade pela mais simples das razões: é que Paul Wolfowitz não disse o que se diz e escreve que ele disse. Vale a pena ver como se construiu o mito das "confissões" do "número dois" do Pentágono - ou como este foi vítima do fenómeno de desconstextualização das suas afirmações, um fenómeno jornalístico de que ontem mesmo se queixava no PÚBLICO, falando da sua experiência própria, Eduardo Prado Coelho.
O primeiro caso surgiu com uma entrevista à revista nova-iorquina de celebridades "Vanity Fair" realizada pelo escritor Sam Tanenhaus. Segundo a agência France Press, aquele responsável teria admitido que a existência de armas de destruição maciça era apenas "um pretexto" para desencadear a guerra contra o Iraque.
Uma tal asserção causou-me natural perplexidade, pelo que tentei encontrar rapidamente a "Vanity Fair" para conhecer as palavras exactas de Wolfowitz, tarefa impossível pois a revista não está ainda à venda: o que se conhece da entrevista é apenas o avanço editorial fornecido pela própria "Vanity Fair". Uma busca mais detalhada permitiu-me contudo encontrar a transcrição integral da conversa entre o sub-secretário de Estado e Sam Tanenhaus, disponível, como todas as intervenções públicas de Wolfowitz, no site do Pentágono, endereço www.defenselink.mil. E o que é que este tinha dito? Veio no PÚBLICO de quarta-feira:
"A verdade é que por razões que têm muito a ver com a burocracia dos Estados Unidos acordámos numa questão em que toda a gente pudesse concordar, que foi a das armas de destruição maciça como razão central, mas houve sempre três preocupações fundamentais. Uma eram as armas de destruição maciça, outra o apoio do terrorismo, a terceira o tratamento criminoso do povo iraquiano".
Entre isto e a asserção do "pretexto" a diferença é, como se vê, grande. Mas mesmo assim menor do que a existente entre a intervenção de Wolfowitz em Singapura (datada de 31 de Maio) e as notícias ontem difundidas nalguns jornais, incluindo o PÚBLICO, de que este defendera que a guerra tinha tido como motivo principal o petróleo. Lida, de novo, a transcrição integral (ver página 16), verifica-se que afinal o que o sub-secretário da Defesa discutia eram as diferentes formas de lidar com o Iraque e a Coreia do Norte, salientando que num caso se podiam realizar pressões económicas e noutro estas eram impossíveis porque o país nadava "num mar de petróleo".
Podemos discordar, e até criticar, Wolfowitz, por ter falado em "razões burocráticas", ou considerar infeliz que pronunciasse a palavra-tabu - petróleo -, mas convém não distorcer o que disse.
Neste caso, foi possível ir à fonte e ter acesso às transcrições integrais das palavras do responsável americano. E foi possível porque tudo o que os governantes americanos dizem em encontros públicos é gravado, transcito e disponibilizado na net. Já em Portugal, quando a imprensa comete os mesmos atropelos e distorções, aos responsáveis políticos envolvidos apenas resta esbracejar."
Meu caro Zé Luis: em matéria de “manipulações” e “encenações”, estamos falados. Não achas?
O meu amigo Zé Luis escreveu-me:
”não queria deixar de comentar uma notícia que lí na Visão.
Quando eu pensava que sobre a questão da guerra no Iraque já tudo estava dito e escrito, eis que surge esta pérola:
Parece que numa entrevista à "Vanity Fair" Paul Wolfowitz se saíu com esta "Combinámos avançar com o tema das armas de destruição maciça porque era o único argumento com que toda a gente podia estar de acordo" mais à frente "A decisão de assim justificar o ataque foi pois tomada por razões burocráticas".
Penso que isto prova, mais do que a cretina arrogância da administração americana, o ridículo que foi a sua defesa por parte de alguns europeus, quer por directa ou indirectamente ganharem alguma coisa com isso (casos de alguns distintos colunistas da nossa praça), quer pela ingenuidade própria de quem na infância se habitou a vêr os cowboys como os bons e os índios como os maus nos westerns de segunda categoria e asim continuou ao longo da vida, com Hollywood assim como com a CNN e afins.
Nem valerá a pena comentar a encenação da operação de resgate de Jessica Lynch, agora desvendada, pois essas e outras manipulações já não me surpreendem.”
Sobre o assunto, e por preguiça, tomo a liberdade de ‘postar’ aquilo que João Noronha escreveu no seu Valete Fratres:
“MAIS UMA MANIPULAÇÃO JORNALÍSTICA: A ENTREVISTA DE WOLFOWITZ
Na passada semana, foi universalmente noticiada uma entrevista de Paul Wolfowitz em que este, ALEGADAMENTE, afirmava que a questão das WMD tinham sido apenas um pretexto burocrático para a guerra no Iraque.
Pois bem, esta notícia era MENTIRA.
Quem fizer o favor de ler a transcrição da entrevista, poderá verificar o seguinte:
Wolfowitz: No, I think it happens to be correct. The truth is that for reasons that have a lot to do with the U.S. government bureaucracy we settled on the one issue that everyone could agree on which was weapons of mass destruction as the core reason, but …there have always been three fundamental concerns. One is weapons of mass destruction, the second is support for terrorism, the third is the criminal treatment of the Iraqi people. Actually I guess you could say there's a fourth overriding one which is the connection between the first two.
A entrevista permite também destruir o mito da influência dos "neo-conservadores straussianos" sobre a Administração Bush.
Fico à espera de ver o desmentido nos media portugueses...”
Desmentido esse, meu caro Zé Luis, que o Público já fez (como o tinha já feito, também, o The Guardian).
Transcrevo, também, o editorial de José Manuel Fernandes, sobre a questão:
Wolfowitz e a imprensa
"Afinal é tudo muito simples. A existência de armas de destruição maciça no Iraque no Iraque foi apenas um pretexto para a guerra, já que o motivo principal para a intervenção foi o país "nadar em petróleo". Paul Wolfowitz, sub-secretário da Estado da Defesa dos Estados Unidos, disse-o, ou confessou-o, pelo que todas as dúvidas estão dissipadas. Foi tudo uma maquinação e uma grande mentira, não é verdade?
Não, não é verdade. E não é verdade pela mais simples das razões: é que Paul Wolfowitz não disse o que se diz e escreve que ele disse. Vale a pena ver como se construiu o mito das "confissões" do "número dois" do Pentágono - ou como este foi vítima do fenómeno de desconstextualização das suas afirmações, um fenómeno jornalístico de que ontem mesmo se queixava no PÚBLICO, falando da sua experiência própria, Eduardo Prado Coelho.
O primeiro caso surgiu com uma entrevista à revista nova-iorquina de celebridades "Vanity Fair" realizada pelo escritor Sam Tanenhaus. Segundo a agência France Press, aquele responsável teria admitido que a existência de armas de destruição maciça era apenas "um pretexto" para desencadear a guerra contra o Iraque.
Uma tal asserção causou-me natural perplexidade, pelo que tentei encontrar rapidamente a "Vanity Fair" para conhecer as palavras exactas de Wolfowitz, tarefa impossível pois a revista não está ainda à venda: o que se conhece da entrevista é apenas o avanço editorial fornecido pela própria "Vanity Fair". Uma busca mais detalhada permitiu-me contudo encontrar a transcrição integral da conversa entre o sub-secretário de Estado e Sam Tanenhaus, disponível, como todas as intervenções públicas de Wolfowitz, no site do Pentágono, endereço www.defenselink.mil. E o que é que este tinha dito? Veio no PÚBLICO de quarta-feira:
"A verdade é que por razões que têm muito a ver com a burocracia dos Estados Unidos acordámos numa questão em que toda a gente pudesse concordar, que foi a das armas de destruição maciça como razão central, mas houve sempre três preocupações fundamentais. Uma eram as armas de destruição maciça, outra o apoio do terrorismo, a terceira o tratamento criminoso do povo iraquiano".
Entre isto e a asserção do "pretexto" a diferença é, como se vê, grande. Mas mesmo assim menor do que a existente entre a intervenção de Wolfowitz em Singapura (datada de 31 de Maio) e as notícias ontem difundidas nalguns jornais, incluindo o PÚBLICO, de que este defendera que a guerra tinha tido como motivo principal o petróleo. Lida, de novo, a transcrição integral (ver página 16), verifica-se que afinal o que o sub-secretário da Defesa discutia eram as diferentes formas de lidar com o Iraque e a Coreia do Norte, salientando que num caso se podiam realizar pressões económicas e noutro estas eram impossíveis porque o país nadava "num mar de petróleo".
Podemos discordar, e até criticar, Wolfowitz, por ter falado em "razões burocráticas", ou considerar infeliz que pronunciasse a palavra-tabu - petróleo -, mas convém não distorcer o que disse.
Neste caso, foi possível ir à fonte e ter acesso às transcrições integrais das palavras do responsável americano. E foi possível porque tudo o que os governantes americanos dizem em encontros públicos é gravado, transcito e disponibilizado na net. Já em Portugal, quando a imprensa comete os mesmos atropelos e distorções, aos responsáveis políticos envolvidos apenas resta esbracejar."
Meu caro Zé Luis: em matéria de “manipulações” e “encenações”, estamos falados. Não achas?
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