Ok, vamos lá ser totalmente honestos
Nos últimos dois meses, o meu pai ligou-me por três vezes no final do programa Quadratura do Círculo (SIC-N), para comentar o dito. Em particular, o «desempenho» de Pacheco Pereira. Sempre vi, desde que me lembro, o meu pai concordar obstinadamente e, se necessário fosse, defender de forma firme José Pacheco Pereira (JPP). Mas, desta vez, os telefonemas foram no sentido contrário. Uma das vezes, foi mesmo proferida a palavra «revolta» (coisa séria, portanto). A razão? A forma como o militante e deputado do PSD baixava a guarda em relação a José Sócrates e «perdia tempo» a criticar a actual direcção do PSD. Sintomático?
Vem isto a propósito da última celeuma que o país enfrenta (como sabeis, este país sem celeumas ainda é menos recomendável): Pedro Passos Coelho (PPC) acusou JPP de o atacar. JPP, por seu turno, fez-se de vítima no último Quadratura do Círculo (achou injusta, infundada e no limite da ofensa, a acusação), puxando, en passant, os galões de feroz anti-socrático. Como é habitual, esteve bem.
Sobre o assunto, três (espectaculares, como é meu apanágio) comentários.
O primeiro: mesmo que o sentisse, PPC não o devia ter dito. Revelou inabilidade política e falta de poder de encaixe (ter-se-á esquecido do que disse de Manuela Ferreira Leite em 2008/2009?). O «quem não se sente, não é filho de boa gente», não é para aqui chamado (um aforismo, aliás, muito falível). Ao revelar-se melindrado pelo que tem dito JPP, PPC abriu caminho a que se fale abertamente das razões dessas mesmas críticas, dando a azo a que se diga que, incapaz de, como o afirmou num frente-a-frente, «compreender» por que razão o PSD não descolava nas sondagens, anda já na senda dos bodes expiatórios. Comentário desnecessário. Ponto.
O segundo: JPP, como pessoa dotada de um intelecto não propriamente mediano e mesmo ciente (tal como, suponho, PPC) de que, regra geral, a crítica é também uma tentativa de tornar plausível um preconceito, sabe perfeitamente do que fala PPC. Sim, é verdade: JPP tem sido febril e pontualmente brilhante na forma como tem desmontado o mundo baldio e matreiro de Sócrates. Mas não é menos verdade que tem sido incapaz de disfarçar o seu distanciamento – pessoal e político – do presidente do seu próprio partido. Dir-se-á que tem pecado por um excesso de zelo no que respeita a aplicação do princípio da honestidade intelectual, renunciando ao seguidismo meio acéfalo, meio acrítico que, por exemplo, António Costa (que é, na mesma medida de JPP, militante de um partido) faz questão de consumar (e aparentemente sem problemas de consciência). De acordo. Mas quem analisa a postura de JPP, hoje, e a postura de JPP em 2009, certamente notará diferenças, sendo que em 2009, JPP emudeceu sempre que a discussão envolvia os «tiros nos pés» de Manuela Ferreira Leite.
O terceiro: a postura de JPP, quando comparada com a de António Costa (abstenho-me de falar no caso patológico-burlesco de Emídio Rangel), leva uma imensa vantagem: a da honestidade intelectual, ainda que por entre algum malabarismo de origem sectária. Dito de outra forma: é mil vezes preferível a voz de um homem livre, ainda que afectado por um preconceito em relação a um terceiro, do que a voz de um homem agrilhoado a uma lógica de defesa inapelável e canídea do chefe do partido a que pertence (daí ter sido patética e tonta a forma como António Costa defendeu JPP). Mas a postura do primeiro, sendo ele «militante» (que também contém o sentido de «soldado») de um partido e estando a viver-se uma renhida e acesa corrida eleitoral, contém uma dimensão não de aleivosia (porque não creio que PPC tivesse depositado alguma fé em JPP), mas de um módico de deslealdade orgânica que, perante o superlativo objectivo de se tentar pôr termo ao reinado de um homem que prejudicou grandemente o país e afundou uma ideia civilizada e honesta de fazer política, não dissipa uma sensação de incómodo. Um incómodo que não se vive nas hostes socialistas, onde haveria, e há, incomensuravelmente mais razões para a crítica inter pares, mas onde se sintetiza (à excepção de Manuel Maria Carrilho) um por vezes patético ideal de unidade. Mas, por sinal, eficaz.
Vem isto a propósito da última celeuma que o país enfrenta (como sabeis, este país sem celeumas ainda é menos recomendável): Pedro Passos Coelho (PPC) acusou JPP de o atacar. JPP, por seu turno, fez-se de vítima no último Quadratura do Círculo (achou injusta, infundada e no limite da ofensa, a acusação), puxando, en passant, os galões de feroz anti-socrático. Como é habitual, esteve bem.
Sobre o assunto, três (espectaculares, como é meu apanágio) comentários.
O primeiro: mesmo que o sentisse, PPC não o devia ter dito. Revelou inabilidade política e falta de poder de encaixe (ter-se-á esquecido do que disse de Manuela Ferreira Leite em 2008/2009?). O «quem não se sente, não é filho de boa gente», não é para aqui chamado (um aforismo, aliás, muito falível). Ao revelar-se melindrado pelo que tem dito JPP, PPC abriu caminho a que se fale abertamente das razões dessas mesmas críticas, dando a azo a que se diga que, incapaz de, como o afirmou num frente-a-frente, «compreender» por que razão o PSD não descolava nas sondagens, anda já na senda dos bodes expiatórios. Comentário desnecessário. Ponto.
O segundo: JPP, como pessoa dotada de um intelecto não propriamente mediano e mesmo ciente (tal como, suponho, PPC) de que, regra geral, a crítica é também uma tentativa de tornar plausível um preconceito, sabe perfeitamente do que fala PPC. Sim, é verdade: JPP tem sido febril e pontualmente brilhante na forma como tem desmontado o mundo baldio e matreiro de Sócrates. Mas não é menos verdade que tem sido incapaz de disfarçar o seu distanciamento – pessoal e político – do presidente do seu próprio partido. Dir-se-á que tem pecado por um excesso de zelo no que respeita a aplicação do princípio da honestidade intelectual, renunciando ao seguidismo meio acéfalo, meio acrítico que, por exemplo, António Costa (que é, na mesma medida de JPP, militante de um partido) faz questão de consumar (e aparentemente sem problemas de consciência). De acordo. Mas quem analisa a postura de JPP, hoje, e a postura de JPP em 2009, certamente notará diferenças, sendo que em 2009, JPP emudeceu sempre que a discussão envolvia os «tiros nos pés» de Manuela Ferreira Leite.
O terceiro: a postura de JPP, quando comparada com a de António Costa (abstenho-me de falar no caso patológico-burlesco de Emídio Rangel), leva uma imensa vantagem: a da honestidade intelectual, ainda que por entre algum malabarismo de origem sectária. Dito de outra forma: é mil vezes preferível a voz de um homem livre, ainda que afectado por um preconceito em relação a um terceiro, do que a voz de um homem agrilhoado a uma lógica de defesa inapelável e canídea do chefe do partido a que pertence (daí ter sido patética e tonta a forma como António Costa defendeu JPP). Mas a postura do primeiro, sendo ele «militante» (que também contém o sentido de «soldado») de um partido e estando a viver-se uma renhida e acesa corrida eleitoral, contém uma dimensão não de aleivosia (porque não creio que PPC tivesse depositado alguma fé em JPP), mas de um módico de deslealdade orgânica que, perante o superlativo objectivo de se tentar pôr termo ao reinado de um homem que prejudicou grandemente o país e afundou uma ideia civilizada e honesta de fazer política, não dissipa uma sensação de incómodo. Um incómodo que não se vive nas hostes socialistas, onde haveria, e há, incomensuravelmente mais razões para a crítica inter pares, mas onde se sintetiza (à excepção de Manuel Maria Carrilho) um por vezes patético ideal de unidade. Mas, por sinal, eficaz.
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