Yeah, right
O “Manifesto 74/74”, que a Marta Rebelo fez o favor de publicar no Blogue de Esquerda, é muito vibrante. Sobretudo na estridente e, a espaços, comovente profusão de lugares comuns, ideias redondas e expressões estafadas que, em bom rigor, parecem não jogar bem com a frescura encefálica dos jovens (adultos) que o produziram. O manifesto está grávido de alertas contra o tenebroso «apetite privado», a transformação do país num «protectorado do FMI», o regresso aos «vínculos laborais típicos do século XIX”. E por aí fora. Em suma: uma putativa «ofensiva anti-Abril» está em curso e um grupo de «cidadãos e cidadãs» (PC forever), nascidos depois do 25 de Abril de 1974, «report for duty». A sério? Não, a brincar. A utilidade do manifesto é directamente proporcional à quantidade de ideias políticas alternativas apresentadas: zero. É a canga do costume, decorada com o lastro lexical da praxe (só faltou mesmo uma referência ao «patronato»), num estilo presunçoso tão típico de uma esquerda chique urbana que faz sempre o favor de se insinuar na praça pública com base no pressuposto de que a verdadeira, a genuína, a desprendida, a magnificente e generosa defesa das «pessoas», lhe pertence por decreto do Altíssimo. Dizem querer lutar contra «uma engrenagem de destruição de direitos e de erosão da esperança», sem por uma vez empregarem o vocábulo «dever». Sem por uma vez se atreveram a dizer, mesmo que genericamente, o que fariam para socorrer o país (se é que pensam que o país precisa de socorro). Virar as costas ao FMI? Sair do Euro? Ninguém faz a mais pálida ideia. No fundo, estivemos na presença de um exercício de retórica política, repleto de poesia: «se nos roubarem Abril, dar-vos-emos Maio!».
Meus caros: leiam mesmo o Tony Judt. Chapter Two, The World We Have Lost. Naquele livrinho em que «o mal fere a terrinha».
Meus caros: leiam mesmo o Tony Judt. Chapter Two, The World We Have Lost. Naquele livrinho em que «o mal fere a terrinha».
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