Vem aí uma campanha muito catita
Acusar os outros de «sofreguidão pelo poder» (mais um soundbite socrático para a memória), após seis anos no poder e com o país à beira da bancarrota, não lembraria ao diabo. Só a José Sócrates. Até no estertor de um governo estropiado (observe-se a figura triste e desesperada de Teixeira dos Santos), este primeiro-ministro continua a comportar-se como se não tivesse a mais leve responsabilidade pela situação a que Portugal chegou e como se as instituições do país não interessassem para nada. Não é de admirar: quem se julga, genuinamente, o único guardião do interesse nacional, o paladino da mais pura boa vontade, e continua a jurar que a crise veio de fora, não pode dizer ou fazer coisa diversa.
Sobretudo porque não nos podemos esquecer que estamos na presença de uma espécie rara de doença mental: a esquizofrenia-narcisista-calimero-política. Esta doença é caracterizada por uma perda de contacto com a realidade (delírios, crenças falsas, devaneios inusitados), presunção em progressão geométrica e arrogância para dar e vender. Na sua mente, José Sócrates observa-se como um valente, perdão, «o» valente e corajoso cavaleiro que, para defender a sua dama (Portugal), enfrenta solitariamente o dragão dos mercados (os ímpios especuladores). A atrapalhar a sua nobilíssima tarefa estão uns seres abjectos - anões corcundas e débeis mentais (os líderes da oposição) – que insistem em trazê-lo para o meio de uma arena (o parlamento) a fim de o derrubar. A ajudá-lo tem uns bobos da corte – liderados pelos jocosos Santos Silva e Silva Pereira – que vão entretendo as massas com as palhaçadas do costume (mentiras, deturpações, disparates).
Só não vê, quem não quer. De PEC em PEC, este governo afundou Portugal. De PEC em PEC, disfarçou as contas, iludiu observadores, descarregou o ónus de «pagar a crise» sobre todos os portugueses, indiscriminadamente. Recusou dialogar e negociar, como se de um governo com maioria parlamentar se tratasse. Recusou sempre, sempre, contar a verdade da situação aos portugueses. Fez troça dos «derrotistas» e «maledicentes», como se revelar a verdade e chamar a atenção para os perigos fosse um atentado ao «interesse nacional». E tentou, a certa altura, envolver o principal partido da oposição no rol dos responsáveis. Quantos mais PECs teríamos ao longo deste ano, por entre uma «execução orçamental» que era um «mimo»?
Mas o maior dos crimes foi o cometido em 2009 – e sobre ele não pode haver a mais leve misericórdia. Em ano de eleições, José Sócrates mentiu, esbanjou como se não houvesse mais amanhã, e prometeu o que já sabia que não iria cumprir. Foi, de facto, ajudado por uma oposição que, entre coisas acertadas, desbaratou a atenção dos portugueses com questões de carácter (não despicientes) quando, no horizonte, havia tanto logro e tanta patranha para desmontar.
Tudo culminou com a mais inqualificável atitude que algum governo minoritário perpetrou em Portugal: negociar um pacote de austeridade sem dar cavaco a ninguém, por entre os auto-elogios de uma «muito boa» execução orçamental.
Agarrados ao poder que nem uma lapa, coisa em que os socialistas são especialistas, vamos ter pela frente uma das mais sujas campanhas de sempre. O mote está dado. Apesar de paupérrimo, resume-se a isto:
a) Nós estávamos no rumo certo;
b) Nós estávamos a fazer o que o BCE, a Comissão e a Sra. Merkel queriam;
c) O PSD, no mínimo, vai fazer o mesmo, mas certamente fará pior (acabar com o Estado Social, privatizar, blá, blá, blá).
Espero que os portugueses tenham memória. E um pingo de sentido de justiça.
2 Comentários:
Pfff..., eu já 'avisei'...
Eu também espero. Mas já comprei uma cadeirinha...
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