Pronto, já começou
Mas por favor, parem.
Parem de relembrar o rol de malfeitorias – perseguições políticas, ambiguidades de ordem moral, cegueira ideológica, cinismo, benevolência em relação a um certo totalitarismo, arrogância – perpetradas por José Saramago, como se ele fosse apenas isso. Não é. E aos moralistas de serviço, cuidado: não somos nenhuns santos.
Parem de sacralizar um escritor, e de o tentar tornar intocável, incontestado e incontestável, como se a sua obra tivesse sido qualitativamente coerente, universalmente consensual e de um fôlego shakespeariano. E lembrem-se da forma como outros grandes escritores portugueses foram indecorosamente esquecidos (lembro-me de Cardoso Pires, por exemplo). Um pouco de pudor, por favor.
José Saramago foi, para a Academia Sueca, para reputados críticos literários (Harold Bloom, James Wood) e para milhares de leitores, um importante escritor do século XX. A sua morte representa, por isso, uma perda. Respeite-se a memória do escritor. Pelo menos esta. Pelo menos agora, na hora da sua morte.
Parem de relembrar o rol de malfeitorias – perseguições políticas, ambiguidades de ordem moral, cegueira ideológica, cinismo, benevolência em relação a um certo totalitarismo, arrogância – perpetradas por José Saramago, como se ele fosse apenas isso. Não é. E aos moralistas de serviço, cuidado: não somos nenhuns santos.
Parem de sacralizar um escritor, e de o tentar tornar intocável, incontestado e incontestável, como se a sua obra tivesse sido qualitativamente coerente, universalmente consensual e de um fôlego shakespeariano. E lembrem-se da forma como outros grandes escritores portugueses foram indecorosamente esquecidos (lembro-me de Cardoso Pires, por exemplo). Um pouco de pudor, por favor.
José Saramago foi, para a Academia Sueca, para reputados críticos literários (Harold Bloom, James Wood) e para milhares de leitores, um importante escritor do século XX. A sua morte representa, por isso, uma perda. Respeite-se a memória do escritor. Pelo menos esta. Pelo menos agora, na hora da sua morte.
2 Comentários:
Muito bem dito.
José Saramago não era menos português por não pôr a bandeira à janela na véspera de um evento desportivo. Acima de tudo, a sua essência era ibérica. Convém dizer que só saiu de Portugal devido à ostracização de Sousa Lara, comprovada agora com o episódio político revisionista da não presença de Cavaco Silva no seu funeral. "Viagem a Portugal" é reflexo de amor e do encantamento que sentia pelo país, pela sua beleza e cultura, pela classe trabalhadora, espelhada na sua identidade, mesmo que isso significasse ir contra a ideologia do seu partido, contra a maioria religiosa, contra o politicamente correcto. Para o seu espírito inconformado, a morte é pouco relevante. Como diria Saramago, "o fim duma viagem é apenas o começo de outra".
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