O MacGuffin: É

sábado, janeiro 02, 2010

É

Vasco Pulido Valente, Público 02/01/2010

2010
"A primeira grande crise económica mundial - que começou em 1929 e foi durando até à II Guerra Mundial - trouxe consigo um terramoto político na Europa, na América e na URSS (a Rússia é outra coisa). Em França, houve uma Frente Popular; em Espanha uma Frente Popular e uma guerra civil; em Inglaterra um governo do Partido Trabalhista pela primeira vez chegou ao poder; na Alemanha caiu a República de Weimar e veio o nazismo; na URSS Estaline liquidou os kulaks e, para grande admiração da "inteligência" ocidental, espremeu da fome e do terror a industrialização forçada; e até na América Roosevelt se atreveu a tomar algumas medidas pretensamente "socialistas", que puseram em transe o "liberalismo" indígena. Pelo mundo inteiro - ou pelo que naquela altura se julgava "o mundo inteiro" - pareceu soprar um vento (irresistível?) de mudança.Era o tempo da "esquerda" ou, mais precisamente, da "esquerda revolucionária", uma sopa turva com que a minha geração ainda cresceu e mesmo, por causa do "25 de Abril", uma ou duas camadas de gente mais nova. Como é óbvio, o colapso do "socialismo real", o descrédito do marxismo enquanto doutrina e teoria e a "normalização" do Estado-Providência acabaram com tudo isso. Agora alguns patetas, que devem ter dificuldade em encontrar a cabeça com as duas mãos, protestam inteligentemente contra os "tremendistas". O dr. Mário Soares (sempre uma alegria) chora dia a dia a "Europa" perdida (ou desencaminhada) e reza aos santinhos da sua desesperada devoção como Lula e Obama. E, segundo consta, uma facção lírica à fado de Coimbra continua ao vento à procura do pensamento.

Mas, de qualquer maneira, um facto é certo: a crise de 2008 não produziu uma ideia. Basta ver Portugal. O Estado apodrece, como sempre historicamente apodreceu, com o défice do orçamento e a dívida externa. O regime político está paralisado e desliza pouco a pouco para o grotesco. O PSD não passa de um grupinho de coscuvilheiras, sem vergonha ou emenda. E o PS serve um optimismo lorpa a uma populaça céptica. Nem um arrepio perturbou a inanidade da nossa vida pública. A reorganização da direita? Qual quê? A reforma da esquerda? Nem pensar. Afinal, a julgar pela placidez da populaça e a resignação da classe média, a crise não existe. Como, de resto, se constatará em 2010. Não é?"

2 Comentários:

Blogger Ricardo disse...

"a julgar pela placidez da populaça e a resignação da classe média, a crise não existe".

Mas que raio quer o VPV que as pessoas façam (mais)? Que entrem na Assembleia da República e desatem aos tiros?

1:27 da tarde  
Blogger AMCD disse...

É exasperante a sobranceria como estas elites intelectuais consideram os seus concidadãos. Para VPV são a “populaça” e para o professor Marcelo, o “zé povinho”. São realmente uns iluminados. Se as elites intelectuais estão preocupadas com a qualidade do actual regime, então que assumam as suas responsabilidades e não se demitam de exercer cargos políticos.

10:29 da tarde  

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