E isto pouco ou nada tem que ver com a liberdade de opinião, somente invocada para disfarçar a ignorância
Richard Zimler ao Ípsilon in Público:
Concluindo, custa-me compreender como é que alguém, ainda que vagamente familiarizado com a filosofia e a literatura ocidentais, pode acreditar que erguer-se em 2009 contra a crueldade contida no Antigo Testamento tem alguma coisa de novo ou de chocante. Ou sequer interessante.
O que é interessante é perguntarmo-nos por que razão exige Deus uma tão absoluta fidelidade aos israelitas e os castiga tão brutalmente por Lhe desobedecerem. Por que são outros povos, como os cananitas, olhados com tanto desprezo. O que diz tudo isto sobre as condições políticas e sociais em Israel em 500 a.C. E o que diz a relação de Deus com Israel sobre a "natureza tribal" das religiões da antiguidade.
Estes, sim, são temas importantes a merecer respostas sérias dos estudiosos.
Mas, naturalmente, nada disto mereceu a atenção de Saramago nem dos que reagiram às suas críticas ao Antigo Testamento. O que me traz ao aspecto mais perturbador e alarmante de toda esta tola controvérsia. Os jornalistas e os responsáveis religiosos portugueses de um modo geral trataram os comentários de Saramago como importantes! Graças a eles, os meios de comunicação deram-lhe mais tempo na televisão e mais espaço nos jornais do que a outras questões muito mais importantes. E alguns representantes da Igreja Católica atacaram-no com uma ferocidade emocional que revela bem que consideram tais opiniões sobre o Antigo Testamento como um obstáculo à fé. Mais uma vez, tal como salientei mais atrás, os comentários de Saramago não são nem chocantes nem novos. E apenas representam um obstáculo à fé para quem não tenha a menor ideia do que é e do que pretendia ser o Antigo Testamento. As críticas de Saramago são unicamente banalidades superficiais, que revelam uma profunda ignorância da filosofia e da religião ocidentais e uma total incompreensão da linguagem poética e narrativa de desde há mais de três mil anos. Só quem ignora tal herança, jornalistas e responsáveis religiosos incluídos, poderia tornar o patético desabafo do romancista numa tal polémica. E, para mim, essa foi a parte mais desanimadora e mais perturbante de toda esta "inventada" notícia: descobrir que na sociedade onde vivemos, entre os seus membros mais ilustres e cultivados, possa prolongar-se tão lastimosa ignorância de uma parte importantíssima do legado civilizacional da filosofia e da cultura ocidentais.
6 Comentários:
Enfim,
Uma opinião superficial de um escritor medíocre, que não aceita que alguém pense de forma diferente dele.
O que interessa em Saramago é a sua qualidade literária, qualidade essa que Zimmler e muitos outros gostariam de ter mas não têm.
As suas opiniões, concorde-se ou não com elas, têm o mérito de levantar questões e estimular debates. É assim que as entendo.
Mas, reforço, o que mais importa são os livros. E a maioria dos que falam de Saramago pouco ou nada leram dele.
Se Zimler é um escritor medíocre, não sei. Se Saramago é um escritor excelente, ou muito bom, também não sei. Não li nenhum livro de ambos. Nem me interessa, para o caso. Foi Saramago que suscitou uma polémica fora da literatura, que nada tem que ver com qualidade ou estilo literários. Saramago quis falar de Deus, da religião e da Bíblia. Não percebo porque chamas à colação a qualidade literária do Zimler e do Saramago, ou o teu gosto por Saramago. Isso não interessa. Ponto final. Quando Saramago disse o que disse, não pode esperar que todos fiquem calados só porque foi ele que o disse ou só porque supostamente ele é um bom escritor. Saramago não tem autoridade nenhuma neste campo e em matéria de conhecimentos teológicos e da narrativa do Livro, Zimler é muito superior a Saramago. Saramago não levantou nenhum debate na medida em que se limitou a dizer umas baboseiras inconsequentes. Se eu disser "O livro O Capital é um manual para totalitarismos" estou a levantar algum debate sério? Não estou. Não é uma questão de concordar ou discordar de Saramago. É uma questão de Saramago ter posto as coisas num ponto apriorístico a qualquer discussão. Nem vale a pena saber se ele tem razão ou não porque o que foi dito, da forma como foi dito, só merece ser ignorado.
Eu não acho que ele tenha dito nada de especial, tendo em conta que há anos que todos sabemos tratar-se de um ateu.
Exprimiu uma opinião, e deixou atrás de si um rasto de polémica, mais pelas reacções indignadas do que propriamente pela declaração em si.
Se merece ser ignorado, porque tanta gente o critica e o condena ?
Eu sou católico, mas não me parece que a Bíblia, ou seja que obra for, possa estar acima de discussãO. E qualquer pessoa que a leia é livre de dar a sua opinião.
Saramago é provavelmente o maior escritor português deste século. Zimmler é um cretino que só graças ao lobby gay se tornou conhecido (tal como de resto o seu namorado, tido como um sumo-pontífice da ciência, quando é um académico igual a tantos outros).
Não há comparação possível. Mas, admito, não interessa para o caso.
Eu não acho que ele tenha dito nada de especial, tendo em conta que há anos que todos sabemos tratar-se de um ateu.
Exprimiu uma opinião, e deixou atrás de si um rasto de polémica, mais pelas reacções indignadas do que propriamente pela declaração em si.
Se merece ser ignorado, porque tanta gente o critica e o condena ?
Eu sou católico, mas não me parece que a Bíblia, ou seja que obra for, possa estar acima de discussãO. E qualquer pessoa que a leia é livre de dar a sua opinião.
Saramago é provavelmente o maior escritor português deste século. Zimmler é um cretino que só graças ao lobby gay se tornou conhecido (tal como de resto o seu namorado, tido como um sumo-pontífice da ciência, quando é um académico igual a tantos outros).
Não há comparação possível. Mas, admito, não interessa para o caso.
Saramago é provavelmente o maior escritor português deste século.
Este século ainda agora começou. ;)
Jaa,
Este "século" começou em 1910, e ainda não acabou.
Mas pode pôr "últimos cem anos"...
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