Se um estrangeiro o disse, é oficial: o ensino em Portugal é espectacular
Segundo uma notícia publicada ontem na edição online do Público, um «especialista canadiano em tecnologia» (?), apontou Portugal como um exemplo a seguir na educação, elogiando o investimento em computadores individuais nas salas de aulas. Num artigo de opinião publicado no blogue Huffington Post - onde já escreveu Barack Obama, atenção – o Sr. Tapscott dirige-se directamente ao presidente dos Estados Unidos da América, desafiando-o: "Quer resolver os problemas das escolas? Olhe para Portugal!".
Em primeiro lugar, e antes de tudo o resto, há que esclarecer o Sr. Tapscott do seguinte: a economia portuguesa abateu-se muito antes de 2005. Eu penso, aliás, embora possa muito bem estar enganado, que se desconhece o ano, o mês e o dia em que V. Exa. a Economia se deprimiu. Há quem fale em século XIX mas eu, que gosto de aspirar ao racional e ao tangível, não iria tão longe: apontaria os dois últimos anos do reinado cavaquista, alavancados de forma ferina, exuberante e, diria mesmo, definitiva pelo reinado guterrista.
Em segundo lugar, e entrando no tema em apreço, não queria, de modo algum, desbaratar o optimismo comovente que o Sr. Tapscott evidencia no seu artigo em relação a Portugal - em perfeita sintonia, aliás, com a corrente de optimismo que este governo pretende institucionalizar (provavelmente como disciplina no ensino básico). Mas convinha que o Sr. Tapscott visitasse durante algum tempo o país ou, pelo menos, fosse avisado do que se passa, realmente, no nosso quintal no que respeita ao «modelo» de ensino e à implementação do mesmo (quanto ao resto, dispensemos-lhe o calvário), não sem antes abandonar a propensão para abraçar o sedutor, romântico mas ainda assim tolinho mito do «pais modesto/selvagem dá lições aos grandes/civilizados».
Convinha, por exemplo, que o Sr. Tapscott soubesse que em Portugal está em curso um processo que poderíamos com relativa segurança (os sinais são tantos que tornam o desvio padrão marginal) apelidar de "Processo de aligeiramento pró-estatístico". A coisa funciona mais ou menos assim: baixar o grau de dificuldade das provas de aferição para mínimos históricos; instigar os professores a não chumbar alunos porque não é bom para a saúde de ambos; esvaziar o conteúdo curricular das disciplinas no sentido de dar o «indispensável». Esta sincronia metodológica assegurará, segundo os artífices do Ministério da Educação, um sucesso impar ao nível das estatísticas internas e comparativas. Tenho a certeza que sim.
De seguida, o Sr. Tapscott deveria perceber a que distância se encontram conceitos como os de «disciplina», «ordem», «autoridade» e «respeito» da prática escolar, mais concretamente em ambiente de sala de aula.
Por último, convinha que o Sr. Tapscott explicasse quais os benefícios que decorrem do facto de «ser a Internet a especialista nos seus (dos professores) domínios» e que vantagens há no facto de ser o aluno a pesquisar na Internet a informação e a ensinar aos restantes o conceito. Provavelmente, o que o Sr. Tapscott vaticina e, presumo, propõe e defende, é que o papel dos professores seja limitado ao de mero assistente, especialista em browsers e ligações à banda larga, cabendo aos alunos o papel de orientar a lição, escolher as fontes e transmitir por entre pares os resultados da «pesquisa». Nesse sentido, o Sr. Tapscott tem inteira razão: Portugal está no bom caminho. Faz, aliás, parte da vanguarda.
Na opinião de Tapscott, o "modesto país para lá do Atlântico", que em 2005 via a sua economia "abater-se", está a tornar-se no "líder mundial a repensar a educação para o século XXI". A presença de computadores nas escolas é "só uma parte" dessa "campanha de reinvenção", frisa Tapscott, que aponta a "criação de um novo modelo de ensino" como a "maior tarefa".
"Não é fácil mudar o modelo de ensino. Aliás, essa é a parte difícil. É mais fácil gastar dinheiro, como Portugal fez, a pôr Internet nas salas de aula e equipar os alunos com computadores", afirmou, acrescentando ainda que "é demasiado cedo para avaliar o impacto na aprendizagem", até porque os estudos sobre a presença de computadores nas aulas foram "inconclusivos".
"Os professores que enfrentam uma sala de aulas cheia de miúdos com computadores precisam de aprender que já não são os especialistas no seu domínio: a Internet é que é", escreve Tapscott. Aludindo à sua experiência numa sala de aulas numa estadia em Portugal, Tapscott conta como os alunos recorreram à Internet para resolver uma questão colocada pelo professor: para saber o que era um equinócio, grupos de alunos pesquisaram a informação e quem a descobriu primeiro explicou-a aos colegas".
Em primeiro lugar, e antes de tudo o resto, há que esclarecer o Sr. Tapscott do seguinte: a economia portuguesa abateu-se muito antes de 2005. Eu penso, aliás, embora possa muito bem estar enganado, que se desconhece o ano, o mês e o dia em que V. Exa. a Economia se deprimiu. Há quem fale em século XIX mas eu, que gosto de aspirar ao racional e ao tangível, não iria tão longe: apontaria os dois últimos anos do reinado cavaquista, alavancados de forma ferina, exuberante e, diria mesmo, definitiva pelo reinado guterrista.
Em segundo lugar, e entrando no tema em apreço, não queria, de modo algum, desbaratar o optimismo comovente que o Sr. Tapscott evidencia no seu artigo em relação a Portugal - em perfeita sintonia, aliás, com a corrente de optimismo que este governo pretende institucionalizar (provavelmente como disciplina no ensino básico). Mas convinha que o Sr. Tapscott visitasse durante algum tempo o país ou, pelo menos, fosse avisado do que se passa, realmente, no nosso quintal no que respeita ao «modelo» de ensino e à implementação do mesmo (quanto ao resto, dispensemos-lhe o calvário), não sem antes abandonar a propensão para abraçar o sedutor, romântico mas ainda assim tolinho mito do «pais modesto/selvagem dá lições aos grandes/civilizados».
Convinha, por exemplo, que o Sr. Tapscott soubesse que em Portugal está em curso um processo que poderíamos com relativa segurança (os sinais são tantos que tornam o desvio padrão marginal) apelidar de "Processo de aligeiramento pró-estatístico". A coisa funciona mais ou menos assim: baixar o grau de dificuldade das provas de aferição para mínimos históricos; instigar os professores a não chumbar alunos porque não é bom para a saúde de ambos; esvaziar o conteúdo curricular das disciplinas no sentido de dar o «indispensável». Esta sincronia metodológica assegurará, segundo os artífices do Ministério da Educação, um sucesso impar ao nível das estatísticas internas e comparativas. Tenho a certeza que sim.
De seguida, o Sr. Tapscott deveria perceber a que distância se encontram conceitos como os de «disciplina», «ordem», «autoridade» e «respeito» da prática escolar, mais concretamente em ambiente de sala de aula.
Por último, convinha que o Sr. Tapscott explicasse quais os benefícios que decorrem do facto de «ser a Internet a especialista nos seus (dos professores) domínios» e que vantagens há no facto de ser o aluno a pesquisar na Internet a informação e a ensinar aos restantes o conceito. Provavelmente, o que o Sr. Tapscott vaticina e, presumo, propõe e defende, é que o papel dos professores seja limitado ao de mero assistente, especialista em browsers e ligações à banda larga, cabendo aos alunos o papel de orientar a lição, escolher as fontes e transmitir por entre pares os resultados da «pesquisa». Nesse sentido, o Sr. Tapscott tem inteira razão: Portugal está no bom caminho. Faz, aliás, parte da vanguarda.
1 Comentários:
Sim, e as razões porque se colocaram computadores nas escolas podem também ter mais a ver com alinhamentos estatísticos e outras "contabilidades numerárias" do que qualquer outra preocupação mais "densa"...
Já o exemplo da pesquisa em aula é um exercício interessante, na perpectiva da formação participante.
A explicação oferecida inter-pares, horizontalmente, idem. Nesse aspecto, creio eu, é que se terá focado a admiração do "estrangeiro".
Decerto não será apologista do modelo de ensino reprodutivo e hierárquico. Muito bem: resta saber de facto é se no dia seguinte alguém tinha retido o que era um equinócio, ou se no teste podem consultar a Net...
Resta ainda saber se esses alunos vão alguma vez saber discernir entre as várias "especialidades" que se encontram na Net...porque virtualmente qualquer afirmação pode ser encontrada - o que não quer dizer que estejam todas em sintonia ou correctas, muito antes pelo contrário...
Este "endeusamento" da Net deve ser semelhante à impressão que tiveram os primeiros seres que organizaram uma biblioteca...só que com muito menos risco de apreender erros (esses outros).
De resto, tirando (alguma, limitada) interactividade, o processo actual é decalcado do fascínio com os anos do "propedêutico" e utilização dos "recursos multimédia" para substituir a presença pessoal do professor.
Observe-se como estão agora as televisões cotadas em termos de ensino à distância...
A próxima "cartada" governamental para reduzir custos com educação será talvez o "professor-robot".
A quimera de que as máquinas irão substituir o homem em todas as suas actividades subsiste. E é verdade para algumas tarefas repetitivas e rotineiras, quer a nível industrial quer doméstico.
Talvez se pretenda que substituir o cérebro de um professor por um motor de busca seja substituir o ensino por auto-aprendizagem livre?
Quem viver, verá...
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial