"O inconcebível acontece"
O "modelo social" tão querido ao socialismo e à "Europa", sonho de um século (do século XIX), faliu. Faliu financeira, económica, social e politicamente. Não vale a pena repetir, argumento a argumento, a razão por que não pode sobreviver. Não pode: e estamos todos, da Alemanha a Portugal, na iminência de uma catástrofe, que irá tornar o mundo em que nascemos num mundo irreconhecível e hostil."
por Vasco Pulido Valente.
"A Alemanha sabe que precisa de reformas, mas não quer reformas. A França sabe que precisa de reformas, mas não quer reformas. A Itália sabe que precisa de reformas, mas não quer reformas. Portugal sabe que precisa de reformas, mas não quer reformas. A palavra "reformas" não descreve bem o remédio ou, se quiserem, a necessidade. Do que se trata é de uma revolução. O "modelo social" tão querido ao socialismo e à "Europa", sonho de um século (do século XIX), faliu. Faliu financeira, económica, social e politicamente. Não vale a pena repetir, argumento a argumento, a razão por que não pode sobreviver. Não pode: e estamos todos, da Alemanha a Portugal, na iminência de uma catástrofe, que irá tornar o mundo em que nascemos num mundo irreconhecível e hostil.
A maioria das pessoas não consegue imaginar mudanças de uma grande radicalidade. Mesmo quando os sinais se acumulam e a lógica se torna inescapável. Em 1914, ninguém acreditava numa guerra de cinco anos, com (pelo menos) nove milhões de mortos. Ninguém acreditou depois que não havia espécie de maneira de "apaziguar" Hitler ou de negociar com Estaline. E com certeza que nenhum comunista admitiu o colapso do Império Soviético. Como dizia o outro, o género humano não suporta demasiada realidade. Ainda por cima, nesse ponto, as coisas pioraram. O Estado-Providência transformou o cidadão vulgar num quase absoluto irresponsável e os dirigentes da democracia fazem uma carreira de lhe mentir.
Um adulto europeu espera, no mínimo, o seguinte: que o Estado lhe eduque os filhos, que o Estado o trate na doença e que o Estado lhe dê uma pensão para uma velhice decente e próspera. E espera também trabalhar pouco (em França, 35 horas por semana), um aumento de salário no fim do ano, que lhe paguem as férias, que lhe garantam o emprego e, muitas vezes, que lhe dêem uma casa ou uma renda barata. Só que esta fantasia, que assentava no domínio universal do Ocidente, na miséria da Ásia e na escravidão da Europa oriental, acabou - e acabou para sempre. Não serve de nada pôr um remendo aqui e um remendo ali. Mais tarde ou mais cedo, o edifício vem abaixo. E não virá abaixo em concórdia e paz. Nenhum regime político resiste à impotência e o que hoje têm de comum os governos da Europa, na Alemanha como em França, em Itália com em Portugal, é manifestamente a impotência. Da fraqueza não sai a ordem; e o inconcebível acontece."
in Público 23-09-2005
por Vasco Pulido Valente.
"A Alemanha sabe que precisa de reformas, mas não quer reformas. A França sabe que precisa de reformas, mas não quer reformas. A Itália sabe que precisa de reformas, mas não quer reformas. Portugal sabe que precisa de reformas, mas não quer reformas. A palavra "reformas" não descreve bem o remédio ou, se quiserem, a necessidade. Do que se trata é de uma revolução. O "modelo social" tão querido ao socialismo e à "Europa", sonho de um século (do século XIX), faliu. Faliu financeira, económica, social e politicamente. Não vale a pena repetir, argumento a argumento, a razão por que não pode sobreviver. Não pode: e estamos todos, da Alemanha a Portugal, na iminência de uma catástrofe, que irá tornar o mundo em que nascemos num mundo irreconhecível e hostil.
A maioria das pessoas não consegue imaginar mudanças de uma grande radicalidade. Mesmo quando os sinais se acumulam e a lógica se torna inescapável. Em 1914, ninguém acreditava numa guerra de cinco anos, com (pelo menos) nove milhões de mortos. Ninguém acreditou depois que não havia espécie de maneira de "apaziguar" Hitler ou de negociar com Estaline. E com certeza que nenhum comunista admitiu o colapso do Império Soviético. Como dizia o outro, o género humano não suporta demasiada realidade. Ainda por cima, nesse ponto, as coisas pioraram. O Estado-Providência transformou o cidadão vulgar num quase absoluto irresponsável e os dirigentes da democracia fazem uma carreira de lhe mentir.
Um adulto europeu espera, no mínimo, o seguinte: que o Estado lhe eduque os filhos, que o Estado o trate na doença e que o Estado lhe dê uma pensão para uma velhice decente e próspera. E espera também trabalhar pouco (em França, 35 horas por semana), um aumento de salário no fim do ano, que lhe paguem as férias, que lhe garantam o emprego e, muitas vezes, que lhe dêem uma casa ou uma renda barata. Só que esta fantasia, que assentava no domínio universal do Ocidente, na miséria da Ásia e na escravidão da Europa oriental, acabou - e acabou para sempre. Não serve de nada pôr um remendo aqui e um remendo ali. Mais tarde ou mais cedo, o edifício vem abaixo. E não virá abaixo em concórdia e paz. Nenhum regime político resiste à impotência e o que hoje têm de comum os governos da Europa, na Alemanha como em França, em Itália com em Portugal, é manifestamente a impotência. Da fraqueza não sai a ordem; e o inconcebível acontece."
in Público 23-09-2005
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