Mais non!
A vitória do ‘Não’ em França teve por base, em boa medida, razões diferentes das que me levariam a votar contra a «Constituição» europeia. Boa parte das razões que sustentaram o «desaire» (da praxe, esta palavra) não coincidem com as razões propaladas, por exemplo, por Pacheco Pereira ou Pedro Mexia. O ‘Não’ francês alicerçou-se num misto de insatisfação generalizada face à situação sócio-económica do país e no receio do eleitorado de esquerda face a uma suposta deriva neo-liberal do projecto europeu, consubstanciada pela entrada em pleno dos «novos» países, cuja postura pró-free market assusta e melindra as finas consciências gauche. Mais do que por razões de princípio ou de ordem ontológica, boa parte dos que escolheram o ‘Não’ viram no aumento do desemprego; na livre (ou menos condicionada…) entrada de produtos provenientes de países emergentes; no declínio das industrias mais tradicionais (a vinicultura, por exemplo); no fim anunciado de certos proteccionismos e de certas regalias do Estado Social; sinais de que a Europa segue, inapelável, um rumo que, na prática, não lhes interessa. Para o bem e para o mal, a França está a perder influência no mundo e na Europa. O seu modelo «social» dá sinais de falência e a situação económica não augura nada de bom. Juntemos a isso os visíveis laivos gaullistas e neo-marxistas que levaram muitos a não perdoar à «Europa» as contradições e clivagens reveladas numa altura em que era suposto fazer frente ao arqui-rival. Nestas coisas, nada melhor do que culpar os outros: a China, os EUA, a globalização e, agora, a «Europa». É verdade: a outrora querida e apadrinhada «Europa», transfigurou-se numa entidade externa – esquisita, burocrática (só agora?), duvidosa - cujas políticas, por um lado, e incapacidades, por outro, acabaram por lhe granjear a vitória no casting da mega-produção "O Bode Expiatório", em estreia um pouco por todo o lado.
No meio das reacções, duas há que importa comentar. A primeira, unipessoal, vem do senador Soares. Quando o ouvimos lamentar, munido da sua proverbial visão simplista do mundo, o revés da «Constituição» - como se um grupo de anti-europeístas e pró-bushistas franceses tivesse tomado conta das urnas - apercebemo-nos de que o Dr. Soares nem sequer percebeu que boa parte do ‘Non’ veio da participação dos «seus» queridos anti-bushistas e anti-americanistas. O Dr. Soares parece estar a milhas de perceber que a «sua» Europa, para além de doente, continua bem distante dos cidadãos, fechada algures entre Bruxelas e Estrasburgo. E que a culpa, pasme-se, não é do Sr. Bush.
A segunda, mais difundida, prova à saciedade que o autismo e a cegueira abundam na cabeça dos «responsáveis» políticos, empenhados que estão em fazer vingar, contra tudo e contra todos, e custe o que custar, a «Constituição». Entendem eles que não há «alternativa». Que quem votar ‘Não’ é contra a «Europa». Para todos os efeitos, o projecto está em piloto automático e só admite um caminho: a direito.
No meio de tudo isto, onde está e como está a «Europa»? Ninguém arrisca comentários para além dos circunstanciais…
No meio das reacções, duas há que importa comentar. A primeira, unipessoal, vem do senador Soares. Quando o ouvimos lamentar, munido da sua proverbial visão simplista do mundo, o revés da «Constituição» - como se um grupo de anti-europeístas e pró-bushistas franceses tivesse tomado conta das urnas - apercebemo-nos de que o Dr. Soares nem sequer percebeu que boa parte do ‘Non’ veio da participação dos «seus» queridos anti-bushistas e anti-americanistas. O Dr. Soares parece estar a milhas de perceber que a «sua» Europa, para além de doente, continua bem distante dos cidadãos, fechada algures entre Bruxelas e Estrasburgo. E que a culpa, pasme-se, não é do Sr. Bush.
A segunda, mais difundida, prova à saciedade que o autismo e a cegueira abundam na cabeça dos «responsáveis» políticos, empenhados que estão em fazer vingar, contra tudo e contra todos, e custe o que custar, a «Constituição». Entendem eles que não há «alternativa». Que quem votar ‘Não’ é contra a «Europa». Para todos os efeitos, o projecto está em piloto automático e só admite um caminho: a direito.
No meio de tudo isto, onde está e como está a «Europa»? Ninguém arrisca comentários para além dos circunstanciais…
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