15 dicas para ser um bom Esquerdista*
Numa altura em que o país virou à esquerda (mentira, não virou nada), aconselho a leitura de um livro. O dito foi-me ofertado pelos bons amigos Jorge e Maria (dois esquerdistas às direitas) por altura do meu aniversário. A capa (uma foto do amigo Che) e o título* não podiam ser mais enganadores. Editado pela Hugin e da autoria de Jamie Glazov (Ph.D. em História, especialista em Estudos Soviéticos), este pequeno livro prende-nos logo a partir da primeira página, carregado que está de uma ironia avassaladora e de um sentido de humor raro. Os capítulos, em jeito de ‘dicas’, apontam o caminho:
DICA 1 – A culpa não é sua: é da sociedade.
DICA 2 – Odeie o Capitalismo: politize a sua raiva.
DICA 3 – Seja um socialista, mas não diga que é.
DICA 4 – Pense em classes e outros inimigos odiosos, como género e raça.
DICA 5 – Odeie a América.
DICA 6 – Odeie a Civilização Ocidental.
DICA 7 – Rejeite a livre vontade
DICA 8 – Faça-se mártir
DICA 9 – Mantenha um fosso entre as suas convicções e os seus actos.
DICA 10 – Coloque-se num plano moral superior.
DICA 11 – Nunca assuma responsabilidades pessoais.
DICA 12 – Reprima as emoções.
DICA 13 – Jogue futebol de esquerda.
DICA 14 – Vá a manifestações.
DICA 15 – Deseje morrer.
Como se pode ler a propósito do autor, Jamie Glazov “aspirou a ser esquerdista, mas falhou redondamente”. Em 1998 escreveu este pequeno tratado no qual, em pouco mais de noventa páginas, reflecte sobre as contradições e a hipocrisia de um certo ideário esquerdista, cujo modus operandi e cujas cosmovisões conduziram ao fracasso da empresa levada a cabo por Glazov. O livro é particularmente fulminante para com os Louçãs e Rosas que por aí pululam: os tais que, do alto da sua superioridade moral, costumam passear-se dentro de sapatinhos Lotusse nos restaurantes mais in da capital depois, claro está, da salvífica jornada de luta em nome do «povo» (que eles, no fundo, abominam). Atinge também os que, deglutindo avidamente o leitinho da mansa loba Ocidental, não se coíbem de a vergastar no minuto seguinte, em nome, por vezes, de monstros que nem sequer o permitiriam. E não deixa de apontar baterias para os denominados jovens «revolucionários», que se julgam detentores da verdade e abusam das lunetas que transfiguram o mundo num filme a preto-e-branco, em que só constam bons e vilões. Eis um pequeno excerto:
”É muito importante começar por um profundo sentimento de alienação em relação à sociedade e, simultaneamente, total cegueira para as causas reais dessa alienação. Primeiro, mantenha uma atitude superior para com os vulgares desejos e negócios humanos. Ambos são governados por uma «má consciência» que será removida quando as coisas forem organizadas como deve ser. Ao mesmo tempo, nunca olhe para o seu passado ou tente perceber a sua pouca capacidade para se relacionar com as outras pessoas. Não pergunte porque é que quase todos os esquerdistas que conhece nunca «alinharam» normalmente, na adolescência, com os seus ou as suas iguais. Não se questione sobre o que terá provocado este desenvolvimento separado, ou o efeito que ele teve nas suas maneiras de ver.
Ignore que os humanos estão indefesos quando crianças. Em vez disso, lembre-se da observação de Rousseau: «Os homens nascem livres». A sociedade é que os acorrenta.”(…)
“Mostre-se frustrado e oprimido. Não avalie o que você realmente sofreu, em comparação com outras pessoas no mundo.
Minimize a realidade de - em termos de oportunidade educacional, posse de bens de consumo e acesso a assistência médica – você estar entre as pessoas mais felizes do planeta. Pense que sofrer é relativo. Diga: «Sim, há pessoas presas em Cuba, e torturadas por discordarem politicamente, mas eu sou brutalizado pelas séries televisivas americanas».”(…)
“Acredite firmemente que você é um grande revolucionário e o epicentro da luta mais decisiva e importante da História da Humanidade. À medida que os anos forem passando e a vida, devagar, mas segura e tragicamente, começar a ensinar-lhe que você é um pequenino microcosmo no universo, comece o processo de depressão. Quando as suas convicções já não puderem resistir às realidades deste mundo que lhe saltam à vista, introverta-se e sinta monstruosidades interiores. A solução-chave, aqui, é não permitir que isso leve a uma auto-reflexão honesta. Se isso acontecer, então, a depressão nervosa será uma bênção disfarçada, porque nessa altura poderá iniciar a fuga à negação de si próprio e, gradualmente, começar a viver a sua vida. Isso está fora de questão. Continue centrado nas estruturas sociais impostas e interprete a sua angústia mental em termos políticos. Faça do capitalismo o seu bode expiatório. Desse modo, aumentará o seu desespero de afastamento. Isso é bom. Seja um bom esquerdista.
Sobretudo, imagine que só você – e talvez mais um ou outro bom esquerdista – possui um grande segredo, algum profundo saber pessoal. Concentre-se, então, na «justiça», mas faça-o como se aqueles que não concordam consigo não a quisessem. Não fique tão preocupado em investigar a verdade como em proclamá-la. Fale aos outros como se fossem uns falhados. Coloque-se num plano moral superior.”(…)
DICA 1 – A culpa não é sua: é da sociedade.
DICA 2 – Odeie o Capitalismo: politize a sua raiva.
DICA 3 – Seja um socialista, mas não diga que é.
DICA 4 – Pense em classes e outros inimigos odiosos, como género e raça.
DICA 5 – Odeie a América.
DICA 6 – Odeie a Civilização Ocidental.
DICA 7 – Rejeite a livre vontade
DICA 8 – Faça-se mártir
DICA 9 – Mantenha um fosso entre as suas convicções e os seus actos.
DICA 10 – Coloque-se num plano moral superior.
DICA 11 – Nunca assuma responsabilidades pessoais.
DICA 12 – Reprima as emoções.
DICA 13 – Jogue futebol de esquerda.
DICA 14 – Vá a manifestações.
DICA 15 – Deseje morrer.
Como se pode ler a propósito do autor, Jamie Glazov “aspirou a ser esquerdista, mas falhou redondamente”. Em 1998 escreveu este pequeno tratado no qual, em pouco mais de noventa páginas, reflecte sobre as contradições e a hipocrisia de um certo ideário esquerdista, cujo modus operandi e cujas cosmovisões conduziram ao fracasso da empresa levada a cabo por Glazov. O livro é particularmente fulminante para com os Louçãs e Rosas que por aí pululam: os tais que, do alto da sua superioridade moral, costumam passear-se dentro de sapatinhos Lotusse nos restaurantes mais in da capital depois, claro está, da salvífica jornada de luta em nome do «povo» (que eles, no fundo, abominam). Atinge também os que, deglutindo avidamente o leitinho da mansa loba Ocidental, não se coíbem de a vergastar no minuto seguinte, em nome, por vezes, de monstros que nem sequer o permitiriam. E não deixa de apontar baterias para os denominados jovens «revolucionários», que se julgam detentores da verdade e abusam das lunetas que transfiguram o mundo num filme a preto-e-branco, em que só constam bons e vilões. Eis um pequeno excerto:
”É muito importante começar por um profundo sentimento de alienação em relação à sociedade e, simultaneamente, total cegueira para as causas reais dessa alienação. Primeiro, mantenha uma atitude superior para com os vulgares desejos e negócios humanos. Ambos são governados por uma «má consciência» que será removida quando as coisas forem organizadas como deve ser. Ao mesmo tempo, nunca olhe para o seu passado ou tente perceber a sua pouca capacidade para se relacionar com as outras pessoas. Não pergunte porque é que quase todos os esquerdistas que conhece nunca «alinharam» normalmente, na adolescência, com os seus ou as suas iguais. Não se questione sobre o que terá provocado este desenvolvimento separado, ou o efeito que ele teve nas suas maneiras de ver.
Ignore que os humanos estão indefesos quando crianças. Em vez disso, lembre-se da observação de Rousseau: «Os homens nascem livres». A sociedade é que os acorrenta.”(…)
“Mostre-se frustrado e oprimido. Não avalie o que você realmente sofreu, em comparação com outras pessoas no mundo.
Minimize a realidade de - em termos de oportunidade educacional, posse de bens de consumo e acesso a assistência médica – você estar entre as pessoas mais felizes do planeta. Pense que sofrer é relativo. Diga: «Sim, há pessoas presas em Cuba, e torturadas por discordarem politicamente, mas eu sou brutalizado pelas séries televisivas americanas».”(…)
“Acredite firmemente que você é um grande revolucionário e o epicentro da luta mais decisiva e importante da História da Humanidade. À medida que os anos forem passando e a vida, devagar, mas segura e tragicamente, começar a ensinar-lhe que você é um pequenino microcosmo no universo, comece o processo de depressão. Quando as suas convicções já não puderem resistir às realidades deste mundo que lhe saltam à vista, introverta-se e sinta monstruosidades interiores. A solução-chave, aqui, é não permitir que isso leve a uma auto-reflexão honesta. Se isso acontecer, então, a depressão nervosa será uma bênção disfarçada, porque nessa altura poderá iniciar a fuga à negação de si próprio e, gradualmente, começar a viver a sua vida. Isso está fora de questão. Continue centrado nas estruturas sociais impostas e interprete a sua angústia mental em termos políticos. Faça do capitalismo o seu bode expiatório. Desse modo, aumentará o seu desespero de afastamento. Isso é bom. Seja um bom esquerdista.
Sobretudo, imagine que só você – e talvez mais um ou outro bom esquerdista – possui um grande segredo, algum profundo saber pessoal. Concentre-se, então, na «justiça», mas faça-o como se aqueles que não concordam consigo não a quisessem. Não fique tão preocupado em investigar a verdade como em proclamá-la. Fale aos outros como se fossem uns falhados. Coloque-se num plano moral superior.”(…)
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