O MacGuffin

segunda-feira, agosto 23, 2004

É A “LOUCURA”
O JMF acredita que “muitos ” dos actos violentos praticados contra judeus em França ”nada têm a ver com o antisemitismo, sendo antes a reprodução na Europa da loucura que se vive no Médio Oriente.” E, acrescenta, ”parece-me que esta confusão entre antisemitismo e contestação (árabe ou europeia, violenta ou não violenta) às opções políticas do Estado de Israel não serve aqueles que se preocupam com o verdadeiro antisemitismo e outras xenofobias que ainda por aí andam (vejam o caso dos portugueses na Irlanda).”

Na ânsia para não confundir nada, JMF acaba a confundir tudo. Em primeiro lugar, JMF não pode juntar no mesmo saco a contestação "violenta" da "não violenta". Em segundo lugar, é muito difícil separar o que são actos contestatários da política do Estado de Israel, do que são actos de «racismo» puramente antisemitas. É cínico afirmar que os actos contra judeus são, na sua «maioria», «antisionistas» e não «antisemitas», i. e., que «muitos» provêem, quase que exclusivamente, da contestação ao Sr. Sharon. A separação que, hoje em dia, se preconiza entre «sionismo» e «judaísmo», tem servido, aliás, para escamotear o que se passa com as comunidades judaicas em alguns países europeus. Ou seja, para tapar o sol com a peneira. Com isto não quero dizer que todos os actos perpetrados contra judeus sejam, exclusivamente, a mais pura manifestação do ódio aos judeus, enquanto tal. Mas podemos, e devemos, interrogarmo-nos por que razão uma contestação a uma «política» de um Estado se faz assim: contra os símbolos e contra o modo de vida dos judeus, sendo certo que estes nem sequer são cidadãos israelitas e encontram-se assimilados na sociedade onde estão inseridos.

Os EUA são, segura e actualmente, o país que mais vê criticada a sua política externa (é, de certeza, o país mais odiado à escala mundial), mas nem por isso se assiste a ataques diários e rotineiros contra cidadãos e interesses norte-americanos na Europa. Ou seja, e para ser claro naquilo que quero dizer, parece-me bem mais provável, pelo tipo e natureza desses ataques, que as investidas contra a comunidade judaica em França sejam causadas por um misto de motivações, onde o papel do «racismo» antisemita é preponderante. Pode até ser certo que a faísca tenha origem na “loucura que se vive no Médio Oriente”, mas é sobretudo o larvar, insidioso e ancestral sentimento antisemita que alimenta a combustão.

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