O MacGuffin

quarta-feira, janeiro 07, 2004

UM DILEMA, UM PROBLEMA
Há mais de dez anos (!) que não passo os olhos pela «referência». Há mais de dez anos que me tornei num ser mal informado, desatento, casmurro e preconceituoso. Há mais de dez anos que vegeto num limbo de desinformação, passando ao lado do «rigor», da «seriedade» e da «imparcialidade» do grande jornalismo. Yes folks, há mais de dez anos que não sigo o ritual de fim-de-semana do saco de plástico. Falo, obviamente, do Expresso. Os meus amigos insistem: o Expresso é o grande jornal nacional, onde se albergam os melhores jornalistas, as melhores abordagens, a melhor investigação jornalística. Mas eu também insisto: o Expresso é um mito. Falha onde os outros falham. Deixa muito a desejar em termos de cobertura jornalística. É o verdadeiro semanário mainstream - o que, à partida, poderia ser um bom sinal. Mas não é porque o não declarado (e não assumido) estatuto mainstream do Expresso advém do falhanço da putativa excelência que tenta altivamente vender. O Expresso é, para todos os efeitos, o protótipo do jornal «manga de alpaca» que serve a recorrente mediocridade em que adoramos soterrar-nos: podia ser melhor, mas serve e há bem pior; ou podia ser pior, logo podemo-nos dar por contentes. Eu embirro (sim, confesso a embirração) com o Expresso por uma razão simples: a aura criada à sua volta - de ser “a” referência e “a” instituição –, aliada à petulância de alguns dos seus colaboradroes e, porque não dizê-lo, de alguns dos seus leitores (que estão convencidíssimos da sua excelente escolha), torna-me mais pessimista em relação a Portugal. Como escreveu Constança Cunha e Sá, ”se aquele monte de papel é o nosso grande jornal de referência, então não há razão nenhuma para não estarmos na tal cauda da Europa donde todos os governos nos querem tirar." Com os diários Público e Diário de Notícias, com o semanário O Independente (já sei, já sei, não presta e é feito por uma dúzia de pessoas...), já para não falar nas publicações que assino (The Economist, Spectator e Literary Review) e com as edições online dos mais importantes jornais internacionais (o The New York Times, o Daily Telegraph, o New York Observer, etc.), o Expresso não é nada. É uma picada de mosquito na epiderme de um elefante. É um jornal perfeita e justificadamente dispensável.
Mas vamos, então, ao dilema. Quando li o que o Alberto havia escrito, ligando o nome do João Pereira Coutinho ao semanário do Sr. Aquitecto, pensei que fosse brincadeira. Mas, pelos vistos, não é. Ao que tudo indica, o JPC passou a fazer parte do lote de colaboradores permanentes do Expresso (neste caso foi o Expresso que ficou a ganhar). O que me coloca um dilema e um problema: eu não quero deixar de ler o João Pereira Coutinho, mas custa-me pagar quinhentos paus pelo saco de plástico. O que fazer? A estratégia a engendrar será a seguinte:

1.º Tentar sacar o(s) artigo(s) pelo site da «referência»;
2.º Falhada a primeira hipótese, pedir a carcaça do jornal a um dos meus amigos na segunda-feira (dia a partir do qual o dito perde a validade);
3.º Falhada a terceira hipótese, solicitar ao Sr. Ferrão da tabacaria o favor de fotocopiar a página onde conste o artigo do João;
4.º Falhada a quarta hipótese, pedir o jornal emprestado e tirar eu a fotocopia;
5.º Por último, caso tudo falhe, comprar a porra do jornal, recortar o que interessa e, de seguida, vendê-lo a peso. Pode ser que ainda lucre com o negócio.

PS: uma derradeira hipótese é a de pedir ao João o favor de remeter o texto para o mail deste vosso criado. Mas temo que será pedir demais.

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