O MacGuffin

terça-feira, janeiro 06, 2004

LIBERALIZAÇÃO RIMARÁ COM PAPÃO?
JMF escreve, a propósito da liberalização do preço dos combustíveis:

”Eu, que acho que o Estado tem tarefas bem mais importantes a desempenhar que fixar preços de combustíveis, limito-me a:
1. Registar que a primeira coisa que as empresas fizeram após a liberalização foi aumentar os preços. Não notei que a esse aumento correspondesse qualquer serviço acrescido que determine a minha opção de compra.
2. Questionar em quê é que a fixação de preços impedia as empresas de prosseguirem os tais grandiosos objectivos. No sistema que estava em vigor, já muitas empresas tinham estratégias agressivas de preços, marketing e outras.
Quando critico as consequências da liberalização (e não a liberalização em si) o que critico é, sim, a falta de visão e a pequenez das empresas que apenas espreitam qualquer oportunidade para sacarem umas massas ao consumidor, em vez de espreitarem todas as oportunidades de melhor servirem o consumidor. Qualquer verdadeiro liberal concordará comigo.”


Comentário: eu, que acho que o Estado tem também outras tarefas a desempenhar, limito-me a:
1. Registar que a primeira coisa que as empresas fizeram após a liberalização foi aumentar o preço. Reacção surpreendente? A falência do liberalismo? "I told you so"? Tratou-se simplesmente de um ajustamento pontual e previsível, com repercussões irrisórias para a vida dos cidadãos. Depois, é bom lembrar um facto: estamos em Portugal, i. e., um país onde o "liberalismo" (ontológico e pragmático) nunca assentou arraiais. Seria absurdo esperar que, dois dias após a liberalização, o mercado se comportasse irrepreensível e automaticamente. Por último, outro importante ponto: em Portugal a carga de impostos sobre certos bens distorce em muitos casos o comportamento do mercado e dos seus agentes. Exemplo disso é, precisamente, o caso dos combustíveis e o singular caso do sector automóvel, albergue do malfadao Imposto Automóvel;
2. Afirmar que estão, agora, reunidas as condições para que os efeitos positivos de vivermos numa economia de mercado de livre concorrência, se façam sentir, também, no sector dos combustíveis - coisa impossível há uns dias atrás. Poder-se-á dizer que, no passado, ninguém proibiu ninguém de praticar preços mais baixos. Mas seria ingénuo esquecer que, quando o Estado se imiscui no mercado para fixar o preço máximo de um determinado bem, é sabido que as empresas, por caturrice, comodismo ou interesse, encostam os seus preços a essa bitola, como referência tácita e inflexível. A partir de 1 de Janeiro de 2004, pôs-se, finalmente, cobro a um declarado situacionismo, onde tudo e todos estavam prazenteira e displicentemente acomodados (consumidores e fornecedores).

O próximo passo? Cabe agora às entidades competentes vigiar o processo para que se antecipem e neutralizem eventuais (embora pouco prováveis) manipulações de preços (através da concertação corporativa dos mesmos). E, por outro lado, cabe também aos cidadãos um papel profilático e pedagógico dentro no mercado: a tomada de consciência de que podem e devem fazer uso da sua posição de consumidores livres, agindo em conformidade. Com isto quero dizer que os cidadãos terão de estar atentos, terão de saber escolher e, dessa forma, exigir melhores preços e melhores serviços. Os dados estão lançados para que todos saiamos a ganhar.

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