O MacGuffin: outubro 2009

sexta-feira, outubro 30, 2009

A «roubalheira» do PS?

Espera-se a todo o momento que o Sr. Capoulas Santos e o Professor Doutor de Coimbra Meu Deus! Vital Moreira, exijam, em nome da coerência e da vergonha na cara, que o PS se pronuncie sobre «a roubalheira» em que estão envolvidas «figuras gradas» do PS.

terça-feira, outubro 27, 2009

E isto pouco ou nada tem que ver com a liberdade de opinião, somente invocada para disfarçar a ignorância

Richard Zimler ao Ípsilon in Público:

Concluindo, custa-me compreender como é que alguém, ainda que vagamente familiarizado com a filosofia e a literatura ocidentais, pode acreditar que erguer-se em 2009 contra a crueldade contida no Antigo Testamento tem alguma coisa de novo ou de chocante. Ou sequer interessante.

O que é interessante é perguntarmo-nos por que razão exige Deus uma tão absoluta fidelidade aos israelitas e os castiga tão brutalmente por Lhe desobedecerem. Por que são outros povos, como os cananitas, olhados com tanto desprezo. O que diz tudo isto sobre as condições políticas e sociais em Israel em 500 a.C. E o que diz a relação de Deus com Israel sobre a "natureza tribal" das religiões da antiguidade.

Estes, sim, são temas importantes a merecer respostas sérias dos estudiosos.

Mas, naturalmente, nada disto mereceu a atenção de Saramago nem dos que reagiram às suas críticas ao Antigo Testamento. O que me traz ao aspecto mais perturbador e alarmante de toda esta tola controvérsia. Os jornalistas e os responsáveis religiosos portugueses de um modo geral trataram os comentários de Saramago como importantes! Graças a eles, os meios de comunicação deram-lhe mais tempo na televisão e mais espaço nos jornais do que a outras questões muito mais importantes. E alguns representantes da Igreja Católica atacaram-no com uma ferocidade emocional que revela bem que consideram tais opiniões sobre o Antigo Testamento como um obstáculo à fé. Mais uma vez, tal como salientei mais atrás, os comentários de Saramago não são nem chocantes nem novos. E apenas representam um obstáculo à fé para quem não tenha a menor ideia do que é e do que pretendia ser o Antigo Testamento. As críticas de Saramago são unicamente banalidades superficiais, que revelam uma profunda ignorância da filosofia e da religião ocidentais e uma total incompreensão da linguagem poética e narrativa de desde há mais de três mil anos. Só quem ignora tal herança, jornalistas e responsáveis religiosos incluídos, poderia tornar o patético desabafo do romancista numa tal polémica. E, para mim, essa foi a parte mais desanimadora e mais perturbante de toda esta "inventada" notícia: descobrir que na sociedade onde vivemos, entre os seus membros mais ilustres e cultivados, possa prolongar-se tão lastimosa ignorância de uma parte importantíssima do legado civilizacional da filosofia e da cultura ocidentais.

sábado, outubro 24, 2009

Um épico absoluto

Vasco Pulido Valente in Público 23/10/2009

Um farsa

O problema com o furor que provocaram os comentários de Saramago sobre a Bíblia (mais precisamente sobre o Antigo Testamento) é que não devia ter existido furor algum. Saramago não disse mais do que se dizia nas folhas anticlericais do século XIX ou nas tabernas republicanas no tempo de Afonso Costa. São ideias de trolha ou de tipógrafo semianalfabeto, zangado com os padres por razões de política e de inveja. Já não vêm a propósito. Claro que Saramago tem 80 e tal anos, coisa que não costuma acompanhar uma cabeça clara, e que, ainda por cima, não estudou o que devia estudar, muito provavelmente contra a vontade dele. Mas, se há desculpa para Saramago, não há desculpa para o país, que se resolveu escandalizar inutilmente com meia dúzia de patetices.

Claro que Saramago ganhou o Prémio Nobel, como vários "camaradas" que não valiam nada, e vendeu milhões de livros, como muita gente acéfala e feliz que não sabia, ou sabe, distinguir a mão esquerda da mão direita. E claro que o saloiice portuguesa delirou com a façanha. Só que daí não se segue que seja obrigatório levar a criatura a sério. Não assiste a Saramago a mais remota autoridade para dar a sua opinião sobre a Bíblia ou sobre qualquer outro assunto, excepto sobre os produtos que ele fabrica, à maneira latino-americana, de acordo com o tradição epigonal indígena. Depois do que fez no PREC, Saramago está mesmo entre as pessoas que nenhum indivíduo inteligente em princípio ouve.

O regime de liberdade, aliás relativa, em que vivemos permite ao primeiro transeunte evacuar o espírito de toda a espécie de tralha. É um privilégio que devemos intransigentemente defender. O Estado autoriza Saramago a contribuir para o dislate nacional, mas não encomendou a ninguém? principalmente a dignatários da Igreja como o bispo do Porto - a tarefa de honrar o dislate com a sua preocupação e a sua crítica. Nem por caridade cristã. D. Manuel Clemente conhece com certeza a dificuldade de explicar a mediocridade a um medíocre e a impossibilidade prática de suprir, sobre o tarde, certos dotes de nascença e de educação. O que, finalmente, espanta neste ridículo episódio não é Saramago, de quem - suponho - não se esperava melhor. É a extraordinária importância que lhe deram criaturas com bom senso e a escolaridade obrigatória.

quinta-feira, outubro 22, 2009

Check it

Ricardo: isto também é muito bom:



Sleeping States In The Gardens Of The North

Muito bom

terça-feira, outubro 20, 2009

Pela segunda vez, Sr. José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa

Notícia Público:

Pela segunda vez, José Sócrates não obteve junto da Justiça uma decisão favorável ao processo que apresentou contra o colunista do “Diário de Notícias” João Miguel Tavares, avança hoje o próprio jornal. Na origem do caso está o artigo "José Sócrates, o Cristo da política portuguesa", publicado em Março deste ano, que o primeiro-ministro considerou "calunioso e ofensivo".

Na primeira vez que o caso foi levado a tribunal, o Ministério Público decidiu arquivar o processo. Na segunda vez que José Sócrates insistiu na queixa, a resposta foi também o arquivamento. Para o juiz do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa que analisou o caso, o artigo em causa pode ser crítico quanto ao político mas é também uma "manifestação legítima de uma opinião", como cita o DN.

Em causa está o artigo "José Sócrates, o Cristo da política portuguesa", que João Miguel Tavares escreveu depois de uma intervenção de José Sócrates no Congresso do PS, na qual este criticou alguns órgãos de comunicação social. No seu texto, sustentou que Portugal é dirigido por “um homem [José Sócrates] sem o menor respeito por aquilo que são os pilares essenciais de um regime democrático", referindo-se ainda à “licenciatura manhosa” do primeiro-ministro.

Para o secretário-geral do PS e primeiro-ministro, o texto do colunista do DN além de "calunioso e ofensivo", questionava a sua "integridade moral", recorda o diário.

Apesar dos argumentos apresentados por Sócrates, Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa realçou a questão da “liberdade de expressão”, que prevê a “possibilidade de poder questionar as acções e opções políticas de um político”. Para o juiz de instrução criminal, “é também neste tipo de situações que o direito à honra tem de ceder em prol da liberdade de expressão”. Assim, o tribunal considerou que o artigo em causa é um texto que "se encontra plenamente inserido no exercício da liberdade de expressão".

sexta-feira, outubro 16, 2009

Meus queridos: bom fim-de-semana

"Deny everything, Baldrick."


Cá por casa

- Ana, como é que vai o 2666?
- Já vou no livro dois.
- E então?
- Bom. Mas olha que o final do livro um foi tão previsível...
- Mau!
- Não há-de ser nada.

quarta-feira, outubro 14, 2009

Para o meu amor

Pedro Passos Coelho

- Eu quero ser presidente do partido (hummm… excessiva ambição numa altura destas)… embora não esteja a dizer que pretenda ver a Dra. Manuela Ferreira Leite pelas costas (hummm… falta de assertividade, estou a ser mole)… mas também não é menos verdade que o partido não pode esperar muito mais tempo devido ao timing da nova legislatura (mau, voltei a revelar ansiedade)… mas, atenção, a Dra. Manuela Ferreira Leite deve cumprir o mandato até ao fim e seria bom que o partido não enveredasse por uma mudança a mata-cavalos (lá estou eu com as meias-tintas… e esta expressão do «mata-cavalos» é pirosa) … mas não podemos viver eternamente numa situação de instabilidade (acrescenta lá qualquer coisa, vá, não pensem eles que és um foco de instabilidade) … quero dizer, eu não pretendo ser um foco de instabilidade no partido, o que eu pretendo é que se dê início a um processo de reflexão profunda e de viragem (bolas, Pedro, estás mesmo a matar a velhota)… não que a Dra. Ferreira Leite tenha sido uma má presidente do partido, longe disso (ninguém vai acreditar em ti, pá)… acho apenas que ela não tem condições para continuar (bolas, pá!, tu vai com calma)… mas… vamos com calma (estou mortinho, estou mortinho…ui!).

Ridículo

As reacções ao vídeo de Maitê Proença são um bom retrato do país de virgens ofendidas, sem sentido de humor, em que Portugal se parece ter transformado. Quando um país perde o sentido das proporções, ao ponto de haver uma petição contra a actriz brasileira (valha-nos Deus!), e a capacidade de se rir de si próprio, está mais ou menos tudo dito. O único pecado de Maitê Proença foi ter, de quando em vez, falhado a graça ou a piada, resvalando para a patetice. De resto, não consigo vislumbrar onde possa estar a ofensa ou o crime ou a importância daquilo. Anyway, who cares?

terça-feira, outubro 13, 2009

Localidade onde se realizará o próximo congresso do PSD

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Trás-os-Montes VI

Nature calls

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Trás-os-Montes V

Rio Angueira

rio_angueira

Trás-os-Montes IV

The amazing Lisa

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Trás-os-Montes III

Terra

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Trás-os-Montes II

Perto do Vimioso.

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Trás-os-Montes I

O Castelo de Algoso, mandado construir por Mendo Rufino no reinado de D. Sancho I, século XII.

castelo

segunda-feira, outubro 12, 2009

Nellie 2

Stephin not Steven

Nellie 1

Don

“The Greeks right again. The light indeed pours from our eyes – its little, dim, narrow human light: we stand before the world like a projectionist behind his dusty cone of shadows, illuminating only what we already know.”

“The worst thing about thinking nothing of yourself is that you assume that your behaviour has no consequences. This makes you much more dangerous than the egomaniac, who at least spends all his time calculating for his own effect.”

“Blessed is the wrongdoer who makes no attempt to justify his actions by anything than pure evil.”

“Only the mad are safe from doubt. I am always bewildered by those who regard a revised opinion as a sign of weakness; it strikes me as a fine guarantee of the commentator’s sanity.”

Don Paterson in The Blind Eye (Faber and Faber Limited, 2007)



À atenção do Miguel Veloso

“Most worrying was his new habit of referring to himself in the sixth person.”

Don Paterson

A petiza

(a minha filha, de 13 anos)

Ela: Ahhh, a Manuela Ferreira Leite prometeu uma coisa.
Eu: E?
Ela: Ela tinha prometido que não iria prometer nada!

sexta-feira, outubro 09, 2009

Up, up and away

Pronto, chega

Não me lixem

O Theodore Dalrymple esteve próximo de um orgasmo

Elisa

Observo Elisa Ferreira no debate televisivo moderado pela inefável Fátima Campos Ferreira. Começa a ser óbvio que Elisa Ferreira não vai, nem quer, abandonar a «gamela» europeia. Desconfio mesmo que, pela performance, Elisa Ferreira está empenhadíssima em perder as eleições de forma mais ou menos clamorosa. Vai no bom caminho, a Elisa.

quinta-feira, outubro 08, 2009

De sim em sim, até ao não final

Está em curso uma coisa chamada «construção europeia». De quando em vez, uns patetas quaisquer – do povo - resolvem emperrar o curso da «construção», por via de sufrágio directo e secreto. Quando isso acontece, a explicação oficial é a de que houve um «equívoco» ou um «desconhecimento» das putativas virtudes do objecto referendado (uma espécie de paradoxo socrático, segundo o qual nunca ninguém age de forma errada com conhecimento de causa), partindo-se para a fase seguinte: esclarecer os eleitores do erro cometido e conceder ao povo uma nova oportunidade para «emendar a mão». Na Irlanda, por exemplo, o governo (ou o Estado) estava na disposição de repetir o referendo tantas vezes quantas as necessárias, até que o Sim vencesse, após o chumbo de 2008. Aproveitaram, agora, o momentum linear proporcionado pela crise para tentar novamente a vitória do Sim. Porque só o Sim faz sentido. Repare-se que o referendo só é repetido por causa do Não. Não estou particularmente convencido que em 2010 se volte a referendar o Tratado de Lisboa, a fim de aferir se Sim ou se Não. Seja com for, desta vez o Sim ganhou. A «construção» readquiriu movimento. Mas em bom rigor, ninguém sabe muito bem o que é a «construção europeia» embora, como é normal, haja convictas e alargadas ideias vagas. Presumo que a «construção europeia» envolva, lá para 2134, um exército europeu, um governo europeu, um presidente europeu, um instituo de emprego e formação profissional europeu, uma junta de freguesia para cada país, etc. etc. Ou talvez não. Talvez um dia alguns povos digam não a esta «construção europeia» e obriguem os artífices da dita a frequentar um curso intensivo de História (da queda do império romano à Segunda Guerra Mundial), envolvendo, en passant, cadeiras que os obriguem, ou melhor, os façam interessar (sou um optimista, eu) pela Hobbesiana teoria do consentimento (nomeadamente razões e condições).

Ide comprar, ide

True, true

quarta-feira, outubro 07, 2009

When you kill it is justice

Rule My World

You set yourself above that allforgiving God
You claim that you believe in
Your kind is goona fall, your ship is sinking fast
And all your able man are leaving

Only someone who's morally superior
Can possibly and honestly deserve
To rule my world

I talk before I think, you shoot before you know
Who's in your line of fire
So somehow we're the same, we're causing people pain
But I stand and take the blame
You scramble to deny it

Only someone who's morally superior
Can possibly and honestly deserve
To rule my world
Only someone who's morally superior
Can possibly and honestly deserve
To rule my world

Explain me one more time, when they kill it's a crime
When you kill it is justice

Kings of Convenience

Não gostar do chefe

Várias hipóteses se colocam perante esta imagem:



1.ª Hipótese: o candidato do CDS-PP à Câmara Municipal de Évora não suporta a cara de Paulo Portas;

2.ª Hipótese: o candidato do CDS-PP à Câmara Municipal de Évora é uma pessoa poupada e quis poupar o partido a gastos supérfluos, aproveitando o slogan das legislativas para a campanha das autárquicas;

3.ª Hipótese: o candidato do CDS-PP à Câmara Municipal de Évora não gosta do líder do partido;

4.ª Hipótese: o candidato do CDS-PP à Câmara Municipal de Évora é um feroz adepto do copy-paste;

5.ª Hipótese: o candidato do CDS-PP à Câmara Municipal de Évora é um pândego;

6.ª Hipótese: o candidato do CDS-PP à Câmara Municipal de Évora é um pouco cegueta, pois julgava estar a colar os cartazes num cartaz do Bloco de Esquerda, por cima da cara de Miguel Portas;

7.ª Hipótese: o candidato do CDS-PP à Câmara Municipal de Évora é vingativo: pediu 500,00 € ao partido para a campanha e só lhe deram 123,30€.

Seja lá o que for, temos homem.

terça-feira, outubro 06, 2009

Cá por casa

(entrando em casa)

- Olha: o 2666. Já viste, Ana, está aqui.
- Eu sei, amor. Fui eu que o encontrei.
- E estava aonde, afinal?
- No closet.
- Boa.

segunda-feira, outubro 05, 2009

O outro projecto do Erlend



Dumpster baby

I love you Jesus

And out

Go f*** yourself

Right on

Brokeback Mountain

Bom senso?

Pedro Adão e Silva, politólogo, acha perfeitamente normal e natural que se suspenda a progressão da carreira de um juiz porque um outro juiz classificou de «erro grosseiro» uma decisão sobre um determinado caso, decisão essa que conduziu à condenação do Estado a indemnizar a vitima dessa mesma decisão (ainda que o Ministério Público tenha recorrido da mesma). Em teoria, talvez, embora, manda o bom senso (invocado pelo Pedro Adão e Silva), deva ser-se cauteloso com as generalizações. A história, esta história, não é assim tão simples e o contexto é vastíssimo.

Em primeiro lugar, todos os anos dezenas de juízes cometem erros nas suas decisões, alguns deles «grosseiros», que levam à condenação do Estado e à admoestação de juri dos tribunais portugueses pelos tribunais europeus. Que se saiba, nunca nada aconteceu à carreira de qualquer juiz. Provavelmente, por bom senso: não será liquido que um juiz, outrora e sempre considerado como muito bom no exercício das suas funções (técnicas), possa ser alvo de uma reavaliação de nota, prejudicando assim a sua carreira, por ter supostamente cometido um único erro. Se um cirurgião competente, com uma folha de serviço impecável, responsável por ter salvo centenas de vidas, cometer um erro que conduza à morte de um doente, é justo e razoável que seja prejudicado por esse trágico acontecimento?

Por outro lado, há um contexto. O juiz Rui Teixeira foi o juiz responsável pela prisão preventiva de Paulo Pedroso, no âmbito do caso Casa Pia, em Maio de 2003. Foi também o juiz que, em 2002, pôs termo ao processo que Manuel Maria Carrilho havia intentado, pelo crime de difamação, contra António Barreto em consequência de um artigo que este escrevera nas páginas do Público, dizendo na altura que “a liberdade de expressão é uma das maiores garantias, um dos nossos maiores tesouros e dos maiores legados que podemos deixar aos nossos filhos" e que "no dia em que os tribunais servirem de mordaça a essa liberdade, no dia em que for calada pelo jus imperii do judicial uma voz livre que seja, em nome da defesa da honra de políticos quando estes são, enquanto políticos, atacados, estaremos todos de luto... aquilo que teremos de Justiça só terá o nome... será um poder judicial, fiel, idólatra, servo do executivo... nesse dia pendurem-se as becas, arrumem-se as penas e as canetas... voltámos àquilo que demoramos quase metade do século XX a deixar". O vice-presidente do Conselho Superior da Magistratura, Ferreira Girão, admitiu há dias que o congelamento da nota de um juiz em função de um processo judicial que se encontra pendente, como aconteceu com Rui Teixeira, é “uma situação inédita”. A ideia desta decisão, partiu de três membros do Conselho nomeados pelo PS. É impossível desligar estes pormenores, com a carga política implícita, do que se está a passar.

Ainda bem que o Pedro Adão e Silva não está sujeito a comissões ou conselhos que avaliem a progressão da sua brilhante carreira de politólogo, independentemente da qualidade do trabalho produzido e da isenção do mesmo. Aposto que será, certamente, por questões de bom senso.

É uma querida e tal…

… mas alguém devia explicar à Joana Amaral Dias que continuar, já a caminho do ano dois mil e dez, a observar o mundo através das velhas lunetas marxistas (o povo explorado e infinitamente miserável, os capitalistas gordos de charuto na boca a esmagar o povo, etc. etc.) não é só errado e estúpido: é patético. Vem isto a propósito do programa Fala com Elas, moderado pelo Pedro Rolo Duarte (RTP-N), onde marca presença a nossa querida Joana. Aqui que ninguém nos ouve (ou, neste caso, lê), a Joana parece estar sempre empenhada em nos convencer, não nos prestemos nós a desatenções de circunstancia, que, no que toca ao índice de impertinência e enjoo, ela está na pole position para levar a taça de incorrigível chata. É rara a opinião que saia daquela cabeça que não venha carregada da canga marxista e feminista, a par de uma visão marcadamente maniqueísta do mundo. Alguém dá um qualquer exemplo que envolva os EUA? A Joana está lá para vomitar de imediato o cego desprezo pelo grande Satã. Alguém menciona o facto (no último programa tratava-se da Eduarda Abbondanza) de ter optado por criar a sua marca e «inventado» o seu trabalho? A Joana está lá para dizer que isso é uma excepção e que as mulheres são, na generalidade, brutalmente exploradas, vivendo sob o jugo da homenzarrada, em casa, e/ou de patrões implacáveis que, gordos e de charuto na boca… Estão a ver a coisa, não estão? Joana: get a grip, will you?

domingo, outubro 04, 2009

Cá por casa

- Carlos, tens contigo o 2666?
- Não. Acho que está contigo.
- Não, não está.
- Está aonde, então?
- Não faço a mínima ideia.

O resto é paisagem

Sobre o PSD, pouco ou nada há a dizer. Há apenas duas pessoas que podem restaurar a dignidade ao partido: Rui Rio e Paulo Rangel. Ambos têm as ideias no lugar, são claros nas suas convicções, não são portadores do lastro bafiento e aparelhista do PSD (dos barões, baronetes e caciques), sempre se mantiveram longe das convulsões, tricas e guerrinhas internas do partido (evitando o desporto favorito de certas luminárias) e, por último, souberam sempre manter aquela dose mínima de seriedade intelectual e de lealdade para com o partido que os impediu de colocar à frente de tudo e todos os seus projectos pessoais de poder, o eventual rancor ou o circunstancial ressabiamento. O primeiro leva vantagem sobre o segundo, por via da experiência. Ambos são homens sérios. O resto é paisagem.

Mr Hawley, I presume

Podia, podia

Esta coisa da maioria relativa podia ser uma experiência interessante, não fosse o nosso parlamento um receptáculo de ódios, azedumes, invejas, intrigas e noções transviadas do que é o interesse nacional. Aliás: é bom não esquecer que a regressão «democrática» registada no parlamento nos últimos anos, tem como principais responsáveis José Sócrates e respectivos acólitos, os quais, juntamente com a ala mais populita do PSD (os santanistas são um bom exemplo disso) e essa fábrica de demagogia dirigida por Louçã a que dão o petit nom de Bloco, foram os responsáveis directos pela balcanização do parlamento. O estilo agressivo e pesporrente, a constante tentativa de expor as contradições e as falhas morais dos seus adversários (não houve um só debate em que José Sócrates não chamasse à colação o passado político dos seus adversários, tentando dessa forma anular qualquer razão de ordem material pela exposição da suposta falha moral, consubstanciada pela fatal incoerência ou o fantasmagórico crime passado), a incapacidade objectiva de aceitar ou encaixar reparos ou críticas (por muito justas ou razoáveis que fossem), o desprezo intelectual conducente à chacota mais primária - foram factores concretos que afectaram a imagem do parlamento (que já não era famosa) e a sua função. Avizinham-se dias de tempestade (o que até pode ser bom...).

sábado, outubro 03, 2009

Cá por casa

- Carlos, outra vez com o 2666!?! Não tinhas começado a ler o Benito Cereno?
- Sim, comecei, mas é livro para arrumar logo à noite.
- E eu, como é que é?!
- Segundo o teu marcador, vais na página 231.
- Já?

quinta-feira, outubro 01, 2009

Cá por casa

- Amor, passa-me aí o 2666.
- Agora não.
- Vá lá! Tu andas a ler o Bartleby!
- Já acabei.

Sem emenda

Ontem de manhã, o meu jornaleiro viu-me pegar no i e no Público e disse “Esse gajo do Público está de saída”. “Quem?”, inquiri. “O director. E ainda bem”, acrescentou. “Então: o que é que o homem lhe fez de mal? Prejudicou-lhe as vendas?”, perguntei. “Não. Era aliado do Bush”. Este nível de argumentos (simplista, demagógico, primário, extraviado) não anda longe do de Francisco Louçã. As recentes declarações do líder do BE sobre Paulo Portas, a propósito do caso dos submarinos, só vêm provar que o povo português foi sábio e prudente ao deixá-lo sem a possibilidade de formar maioria com o PS. Ao contrário dos comunistas, que comiam criancinhas ao pequeno-almoço, Louçã sorve todos os dias, pela manhã, um batido multivitamínico de demagogia, enquanto lê, pela enésima vez, a doutrina persecutória do Comissariado do Povo para os Assuntos Internos (que é também livro de cabeceira do nosso amigo Santos Silva). A vertigem para a difamação de índole moralista e para a censura acrimoniosa que busca sempre a desqualificação definitiva do carácter do adversário e, simultaneamente, auto-exaltar a sua suposta superioridade moral e a sua aparente santicidade, são já lendárias em Francisco Louçã. Durante a campanha, percebemos todos o quão descabidas, ocas e ridículas são algumas das medidas práticas de um partido cuja génese e modus operandi não comportam a luz do dia. Sem máscaras e sombras, o retrato não é nada bonito. Tudo junto, facilmente se percebe que o pendor justiceiro e proto-pidesco do homem é para levar a sério. Não é um «tenham muito medo». É mais um «estejam atentos».

Nada do outro mundo

Recebi um friendly mail onde se lia “os KOC não são nada do outro mundo”. É isso mesmo. É isso que eu amo nos Kings Of Convenience: não são nada do outro mundo. A música dos Kings não é feita para ser seminal, revolucionária, vanguardista, hype. Não há propósitos de rasgar, gritar, protestar ou fundar o que quer que seja. O Erlend e o Eirik são apenas dois rapazes noruegueses, thirty something, que decidiram um dia dedicar-se à composição de músicas simples, melodicamente harmoniosas* melodiosas, para não dizer sublimes (uma espécie de Simon & Garfunkel meets Bossa Nova caso esta tivesse sido inventada na Europa), em ambiente super cool, sobre o mundo dos afectos, da amizade, da saudade e da melancolia de rapazes e raparigas iguais a eles.

Ao fim de oito anos e três discos, os Kings não desistiram de nada. Melhor ainda, não evoluíram: não se desviaram um milímetro do tom, do estilo e do ambiente a que nos habituaram desde Quiet Is The New Loud. Não se voltaram para as «raízes», não abraçaram qualquer nova tecnologia, não estabeleceram parcerias com gurus, não convidaram alguém famoso para abrilhantar esta ou aquela canção, não são capa de «revistas do coração» ou da «especialidade». O que eles querem mesmo é continuar a fazer músicas graciosas e bonitas (e digo-o correndo o risco inerente à utilização do adjectivo parolo e sentimentalão) em busca do riff perfeito e da mais cool das entoações. Mais nada. I’ll drink to that.



* fui violentamente admoestado pela expressão pelo que, acabrunhado, refiro apenas «melodiosas» na esperança de que assim passe.

Encavacada, disse a pasionara Gomes

A declaração de Cavaco Silva, consubstanciada pela contínua «postura» de putativo afrontamento ao recentemente decretado sacrossanto poder executivo de José Sócrates (também recentemente relegado à figura de vitima), provocou uma autêntica hemorragia de ódios, ressentimentos e desprezo de ph = 0,1 em relação à figura de Cavaco Silva (veja-se o caso de Ana Gomes). De todo este lamentável episódio, o que perdurará por muito tempo na memória dos mais atentos, será a forma como tanta gente surgiu, de todo o lado, ansiosa por largar a céu aberto o que parecia estar contido durante demasiado tempo no peito de cada um (rancor espongiforme). O suposto «deslize» do tosco homem de Boliqueime – o tal que, como disse Clara Ferreira Alves, lá fora não passaria de um «apêndice» - serviu de mote para, de uma vez por todas, se tentar despir o homem das fátuas vestes que têm disfarçado a sua mediocridade e a sua imutável natureza de simplório, e, se possível, já agora que se faz tarde, enxotá-lo de um milieu que exige sofisticação, erudição e um ethos de seita que ele manifestamente nunca teve (a malta do Jugular não vê outra saída a não ser a demissão). Neste país, onde se perdoa tudo a todos e se invocam e aceitam razões insondáveis (os deputados têm agora, pelos vistos, «liberdade» para lançar invectivas contra o chefe de Estado), parece não se suportar a presença, os costumes e os modos do autor material do cavaquismo, mais conhecido pelo "Hillbilly de Belém". Ao Presidente, a este Presidente, não se lhe permite a mínima margem de manobra no que respeita à latitude de manifestações que venham a comportar um desvio de milímetro da forma e do instituto de um cargo que, no caso de Cavaco, se esperava nulo, insignificante, inconsequente, mesquinho no seu alcance. José Sócrates pode fazer declarações ao país sobre o Freeport, justificando-se e, en passant, achando-se vitima de «campanhas negras» (assim, sem mais nem menos), que nada acontece. O presidente do Governo Regional dos Açores pode emitir opinião a destilar ódio, em frente aos microfones sobre um caso em que o PR estava carregado de razão (provou-se mais tarde), que nada acontece. Cavaco Silva não pode justificar, não pode explicar, não pode enquadrar, não pode, sequer, sentir-se vitima do que quer que seja. Se falou depois, foi tarde. Se tivesse falado antes, cairia o Carmo e a Trindade perante tamanha tentativa de influenciar as eleições. É a democracia, em todo o seu esplendor.

Cavaco Silva foi pouco claro, na sua declaração? Sim e não. Sim: terá sido pouco «assertivo» em relação a certos pontos (por exemplo, o papel e o grau de autonomia de Fernando Lima quando decidiu tomar café na Avenida de Roma) e excessivamente «sentimental» (a um chefe de Estado não são permitidos «estados de alma»). Mas não, meus caros: Cavaco Silva foi bastante claro. O Presidente da República não confia nos actuais dirigentes do Partido Socialista, partido que por sinal tem como secretário-geral um homem que é primeiro-ministro de Portugal, e abomina e não está para aturar a forma como o têm tentado afrontar directa e indirectamente, através de manobras mais ou menos subterrâneas. Mais claro que isto, seria impossível.

PS: Ana Matos Pires, do suave e subtil Jugular, insinua que Cavaco Silva está com problemas mentais. Chegámos aqui. E isto é só o começo.
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