O MacGuffin: novembro 2008

quinta-feira, novembro 27, 2008

Nada ao acaso

Constança Cunha e Sá in Público (27/11/2008)

Desmentido

Há uns tempos, enquanto andava, por aí, a vender o Magalhães, o primeiro-ministro, confrontado com uns dados desagradáveis avançados pelo FMI, decidiu explicar ao mundo que não comentava previsões de uma instituição que, na sua douta opinião, estava "desacreditada". Se o mundo ignorou olimpicamente as palavras do eng. Sócrates, por cá, a ortodoxia reinante recebeu-as com toda a naturalidade. Vivíamos, na altura, por obra e graça do Governo, num verdadeiro oásis, imunes aos efeitos da crise internacional, com uma banca à prova de qualquer subprime e um crescimento económico que fazia inveja a qualquer país europeu. Uma semana depois, o Orçamento do Estado, apresentado, em capítulos, pelo ministro das Finanças, previa para o país um crescimento "fantástico" de 0,6, fruto, claro, da "determinação" e da "coragem" com que o eng. Sócrates tinha enfrentado uma crise que - convém lembrar - de acordo com o discurso oficial, não se reflectia entre nós. Mistérios da propaganda!

O "optimismo" do primeiro-ministro, esse optimismo que, ainda há uns meses, o dr. Dias Loureiro elogiava com abundância de adjectivos, contrastava luminosamente com a "descrença" evidenciada pela dra. Ferreira Leite. Em dois tempos, a presidente do PSD passou a ser vista como uma espécie de "ave agoirenta", incapaz de fazer propostas e de apresentar uma alternativa credível. Como se depreende, as forças vivas da nação, pastoreadas pelo dr. Santos Silva, em vez de se questionarem sobre o "milagre" do Orçamento, caíram em cima da dra. Ferreira Leite, escalpelizando, com um zelo inexcedível, todas as suas declarações. Resultado: mesmo sem propostas, a líder da oposição revelou-se uma fonte inesgotável de gaffes e de contradições, exploradas pelo PS, pelo Governo e pela comunicação social até aos limites da exaustão. Ela, que prometia oferecer uma nova credibilidade ao PSD, transformou-se, no curto espaço de um mês, numa perigosa xenófoba, capaz de defender a censura e a suspensão da democracia. Curiosamente, os indignados do costume indignam-se muito pouco (ou nada) com o autoritarismo provado do eng. Sócrates ou com a máquina de propaganda que o Governo tem, neste momento, ao seu dispor. A dra. Ferreira Leite foi ridicularizada por referir a forma como o PSD é tratado pela comunicação social (14º lugar num telejornal qualquer). E o que dizem, agora, todos os que a ridicularizaram, quando se sabe, entre outras coisas igualmente graves, que na Lusa é proibido usar a palavra "estagnação", numa altura, em que o país está à beira da recessão? Ninguém liga? Vai ficar tudo na mesma? A censura passou a fazer parte do dia-a-dia da comunicação social? Vamos ver!

Enquanto isso, o país foi confrontado com mais um relatório internacional que desmente o optimismo do primeiro-ministro e as contas apresentadas pelo seu ministro das Finanças. Desta vez, as más notícias vêm da OCDE e apontam para um aumento desastroso do desemprego e para um crescimento de 0,1 para o ano de 2009. O eng. Sócrates, como já é hábito, consolou-nos com o mal dos outros - esquecendo-se que o mal dos outros é o nosso maior mal - e passou obviamente ao lado das previsões para 2010 que referem que Portugal não conseguirá recuperar ao mesmo ritmo que os outros países europeus. O facto mereceu apenas uma pequena chamada de primeira páginas nalguns jornais. Quem é que se interessa pela recessão em que o país vai entrar, ainda este ano, quando pode dedicar-se, quase em exclusivo, às hipotéticas ligações do Presidente da República ao BPN. Ontem, a notícia do dia era o financiamento da campanha eleitoral do prof. Cavaco Silva, irremediavelmente ligada à história do banco, através de uma contribuição de 15 mil euros feita pelo dr. Oliveira e Costa. Nem o facto de a campanha eleitoral do dr. Soares também ter sido contemplada pela generosidade do antigo presidente do BPN foi suficiente para estragar uma boa história.

Se num primeiro momento houve quem visse no BPN uma espécie de Casa Pia do PSD, há agora quem, através dos Dias Loureiros de serviço, pretenda traçar o epitáfio do cavaquismo, colando o actual Presidente da República a uma "história de polícia" que, em última análise, traria à luz do dia o reverso do seu sucesso como primeiro-ministro. Esta subtil tese esconde, no entanto, objectivos bastante mais comezinhos, ocultando essencialmente a necessidade de fragilizar a única figura de Estado que goza de algum prestígio. Não por acaso, ainda esta semana, o dr. Lello, esse maître à penser do primeiro-ministro, se sentiu obrigado a negar a participação do PS na campanha de rumores e de insinuações que foi criada à volta do prof. Cavaco Silva. E por que haveria o PS de estar envolvido numa campanha destas? Para disfarçar a incompetência do seu governador do Banco de Portugal, que se considera alvo de um "linchamento público" só porque não foi capaz de exercer as suas funções? Para desviar as atenções dos péssimos resultados da sua política? Para que não se saiba que o fabuloso Teixeira dos Santos foi considerado o pior ministro das Finanças da Europa pelo Financial Times? Para silenciar a crise na Educação e os protestos dos professores? Ou, voltando ao princípio, para fragilizar uma das poucas vozes deste país que o Governo não consegue controlar? Se a resposta não fosse óbvia, o dr. Lello não se teria sentido obrigado a desmenti-la. Há desmentidos que se desmentem a si próprios.

terça-feira, novembro 25, 2008

Red House Blue Guitar

(esqueçam o video, ouçam a música)

sexta-feira, novembro 21, 2008

A Democracia na América

Outra vez

Ouço as suas explicações na TVI sobre a putativa gaffe de Manuela Ferreira Leite e, desta vez – facto que me incomoda excessivamente -, estou em desacordo com Vasco Pulido Valente.

Entendamo-nos. Manuela Ferreira Leite explicava (acertadamente ou não) que, em Democracia, não se podem fazer reformas contra as corporações e as pessoas sobre as quais incidem as mesmas. Tem que haver um mínimo de negociação e de entendimento sob pena de serem contraproducentes. A não ser, adiantou, que se suspenda a democracia por uns meses para pôr o país na ordem uma vez que, nessas condições, o «chefe» pode, quer e manda. “Até nem sei se a certa altura não seria bom haver seis meses sem democracia…”. A ironia estava lá, assim como a farpa dirigida ao governo – que, com Maria de Lurdes Rodrigues, tem dado ar de quem «pode, quer e manda» ou de quem queria «pôr tudo na ordem» sem mais chatices e delongas.

É um facto que a construção da frase não foi a melhor. É um facto que o visionamento das declarações – em discurso directo - faz toda a diferença quando comparamos as mesmas declarações transcritas para o papel, preto no branco. É um facto que esquecer o que ela disse imediatamente antes e depois da fatídica frase faz toda a diferença. Manuela Ferreira Leite não é uma oradora brilhante. Mas daí a pensar-se que Manuela Ferreira Leite sonha com interregnos democráticos vai uma enorme distância. A distância que separa os que compreenderam a ironia e o sentido das declarações, relegando para segundo plano o acessório mau jeito, e os que aproveitam o ensejo para juízos de ordem moral e lições de democracia. Desculpar-me-á o Vasco Pulido Valente, se um dia ler este seu indefectível, mas as críticas a Manuela Ferreira Leite neste contexto têm sido, no mínimo, estranhamente tortuosas. E para tortuoso mor já nos basta Luís Delgado.

quinta-feira, novembro 20, 2008

O carro "Magalhães"


E que tal acordar?

No mesmo dia em que a Dra. Manuela Ferreira Leite ofendeu as finas e sacrossantas consciências dos anti-fascistas que fizeram Abril, e deu azo a que o Dr. Filipe Menezes pavoneasse, uma vez mais, a natureza insana do seu ressabiamento, o Sr. Eng. Sócrates disse, algures numa visita de propaganda, que Portugal vai estar em pouco tempo coberto pela «Banda Larga» e que isso fará toda a diferença «nas empresas e famílias».

No dia em que a Dra. Manuela Ferreira Leite pôs termo à tranquilidade assombrada do Sr. Luis Delgado e espicaçou a verve gelatinosa da generalidade dos comentadores políticos (profissionais de créditos firmados), colocando ao rubro a «indignação» e trazendo à colação a famosa expressão «há coisas que não podem ser ditas em política», o governador do Banco de Portugal – o «pastoso», segundo Nogueira Leite, Vítor Constâncio – afirmou que a origem do desemprego de longa duração se deve ao «conforto do subsídio de desemprego».

Ou seja: enquanto meio mundo se dedicava à vital tarefa de dissecar as palavras da Dra. Ferreira Leite e a outra metade se dedicava à lúdica arte de transcender o sentido dessas mesmas palavras através do exacerbamento da sua objectividade literal, duas proeminentes figuras do Estado fizeram o que lhes é habitual: um, dedicou-se à sua actividade de vendedor de banha-da-cobra com toques de ilusionismo; o outro, no intervalo da sua fantástica e eficaz função de fiscalizador, escamoteou a realidade apontando para um problema causas pífias e ridículas.

Só quem não conhece o actual sistema de atribuição do subsídio de desemprego - condições, prazos e metodologia associada (o PAE - Procura Activa de Emprego - e a respectiva medida de coacção com termo de identidade e residência) - e as verdadeiras causas do desemprego de longa duração (na sua grande maioria pessoas com mais de 40 anos) pode afirmar, no remanso dos seus 17.000,00 euros de rendimento mensal, uma barbaridade dessas.

Só quem passa a vida a confundir o que é substância com o que é acessório, o que é instrumental com o que é substancial, pode continuar a sua ridícula e triste cruzada em torno da «Banda Larga» e do «Magalhães», enquanto o mundo desaba mesmo ali ao lado.

E o notável é que Sócrates e Companhia (com particular ênfase para os spin doctors Augusto Santos Silva e Alberto Martins) conseguiu toldar o discernimento da generalidade dos que «pensam» (bocejo) o país. A massa crítica deste país tem como alvo... Manuela Ferreira Leite. Está tudo dito, não está?

Uma farsa

Constança Cunha e Sá in Público (20/11/2008)
Uma farsa

Na terça-feira, como seria de esperar, o país caiu em cima da dra. Ferreira Leite. Não é impunemente que a líder do maior partido da oposição decide vir a público defender as vantagens de uma ditadura provisória para "meter tudo na ordem", antes de se regressar à velha balbúrdia da democracia onde qualquer reforma exige inevitavelmente a colaboração dos que não estão na disposição de se deixar reformar. Houve quem, tentando desesperadamente desculpar o indesculpável, descortinasse, nestas declarações, uma ironia subtil que não terá sido devidamente detectada por parte da classe política e da comunicação social. Mas, como foi referido por uma mão-cheia de patriotas, há matérias, altas como esta, que não se prestam a exercícios de humor.

Daí que, ironias à parte, as desconcertantes palavras da dra. Ferreira Leite tenham obrigatoriamente que ser tomadas à letra. E tomadas à letra revelam, como compreendeu de imediato o dr. Alberto Martins, que a presidente do PSD defende a instauração de uma ditadura por um tempo mínimo de seis meses, durante os quais, supõe-se, seria restaurada a censura, suprimida a liberdade de expressão, encerrada a Assembleia da República, abolidos os partidos políticos e suspensa a participação na União Europeia. Tudo isto a bem do país (ou, melhor, da nação) e das reformas inadiáveis que a democracia, com os seus floreados, não deixa concretizar.

Não se sabe se o PSD, nesta sua cruzada contra o regime, conta com os "actos disparatados" que, segundo o general Loureiro dos Santos, poderão eclodir no seio de umas Forças Armadas à beira do desespero. Mas sabe-se que, no interior do partido, são muitas as vozes que consideram que não é possível "meter tudo na ordem" num prazo tão curto, defendendo que o período de seis meses deve ser prolongado por tempo indeterminado. Perante este clima de sublevação e a iminência de um golpe de Estado, o intrépido dr. Luís Filipe Menezes exigiu pela centésima quarta vez a demissão imediata da dra. Ferreira Leite, perguntando, com ar dorido, "quantas voltas estará a dar no túmulo Sá Carneiro ao ver o seu partido defender que a democracia deve ser suspensa?" Independentemente dos resultados desta indagação tumular, o dr. Menezes defende, com redobrado ardor, a realização de um congresso extraordinário, no primeiro trimestre de 2009, com o objectivo de remover da direcção do partido todos os adeptos da ditadura.

No mesmo dia, o PS e o Governo, interrompendo a sua cruzada contra os professores e sem condições para comentar a revisão em baixa do crescimento económico e o aumento do desemprego, nomeadamente o de longa duração, que o dr. Vítor Constâncio atribui "ao conforto do subsídio de desemprego" (quem sabe, se acabando com ele, o problema se resolve!) foram obrigados a sair em defesa do regime, criticando as palavras "antidemocratas" da dra. Ferreira Leite. Num primeiro momento, o dr. Alberto Martins criticou veementemente a instauração de uma ditadura provisória, proposta pelo PSD, explicando, a quem ainda não tinha percebido, que "não há ironia quando se apela a uma ideia de interrupção da democracia" que, como ele muito bem sabe, tanto "custou a construir". Tentando enquadrar a matéria, o líder parlamentar socialista chamou a atenção para uma assustadora "sequência" de atitudes, pautadas pela "xenofobia" e por vários silêncios cúmplices. O dr. Santos Silva, por sua vez, exigiu "explicações" à dra. Ferreira Leite, já que "existem fundadas dúvidas" sobre o que esta "pensa e sente acerca da democracia".

Neste ponto do debate, seria de esperar que já não houvesse dúvidas (fundadas ou não) sobre os pensamentos ou sentimentos da dra. Ferreira Leite. Depois do PS e do Governo terem garantido que a líder do PSD tinha apelado à interrupção da democracia e que não havia ironia que distorcesse esse intolerável escândalo, deixou de haver dúvidas, para haver apenas um caminho a seguir: acompanhar o dr. Menezes, exigir a demissão imediata da dra. Ferreira Leite e combater, sem desfalecimentos, a ditadura que ela gostaria de ver instaurada em Portugal. Como se sabe, não foi isso que aconteceu: enquanto o dr. Menezes ficou entregue a si próprio, tentando descortinar quantas voltas estará o dr. Sá Carneiro a dar no túmulo, o PS e o Governo deixaram a defesa da democracia para melhores dias e debruçaram-se, ontem, sobre a crise na Educação, acusando os sindicatos de contribuírem, com o seu "extremismo", para acentuar o "conflito" entre o Governo e os professores.

Esta actuação, para além de levantar algumas dúvidas (fundadas) sobre os objectivos da maioria governamental, revela também uma perigosa debilidade da nossa democracia. Porque das duas, uma: ou ninguém levou a sério as declarações da dra. Ferreira Leite e toda a gente decidiu aproveitar uma ironia, sem consequências, para montar um circo hipócrita e moralista; ou, mais grave ainda, a líder do PSD defendeu, de facto, a instauração de uma ditadura e isso serviu, apenas, para animar os telejornais do dia. E mesmo nesse dia, nem o dr. Alberto Martins, do alto do seu antifascismo, foi capaz de exigir a demissão de quem defendeu a suspensão da democracia e está à frente do maior partido da oposição. Talvez porque a democracia é, cada vez mais, uma farsa.

terça-feira, novembro 18, 2008

Pulhismos

A reacção do PS, pela voz e postura perenemente beata de Alberto Martins, relativamente às declarações de Manuela Ferreira Leite sobre a diferença entre reformar em democracia vs reformar em ditadura, é abjecta e revela uma má-fé que nos permite concluir que estamos muito perto do grau zero da política em Portugal. A reacção e as conclusões de Alberto Martins partem de um exercício vituperoso: retirar do contexto uma conversa e pura e simplesmente ignorar a ironia empregue nas palavras de Ferreira Leite, apreendida por todos os que estavam presentes naquela sala. De seguida, ao juntar à crítica o que se passou na Madeira e as putativas declarações «xenófobas» (segundo o próprio) de Manuela Ferreira Leite sobre os «ucranianos e cabo-verdianos», Alberto Martins eleva a fasquia da sua reacção ao nível da canalhice.

Noutro registo, Luis Filipe Menezes – um homem tortuoso, emocionalmente debilitado e politicamente doente – volta ao seu exercício preferido: bater, bater, bater, bater em Manuela Ferreira Leite. Luis Filipe Menezes está-se nas tintas para o que diz desde que o que diga seja contra Manuela Ferreira Leite. Menezes - militante e dirigente do PSD – não se importa de alinhar na má-fé do PS e de prejudicar a imagem do partido. Nem se importa de fazer agora o que criticou ao outros. A sede de vingança e o nível de ressentimento e ressabiamento em Menezes só pode terminar em case study.

domingo, novembro 16, 2008

Tomar nota

”Many people boast of being masters in their own house. I pretend to be master of my own mind. I should be sorry to have an ejectment served upon me for any notions I may choose to entertain there. Within that little circle I would fain be an absolute monarch. I do not profess the spirit of martyrdom; I have no ambition to march to the stake, or up to a masked battery, in defence of an hypothesis: I do not court the rack: I do not wish to be flayed alive for affirming that two and two make four, or any other intricate proposition: I am shy of bodily pains and penalties, which some are fond of – imprisonment, fine, banishment, confiscation of goods: but if I do not prefer the independence of my mind to that of my body, I at least prefer it to everything else. I would avoid the arm of power, as I would escape from the fangs of a wild beast: but as to the opinion of the world, I see nothing formidable in it. ‘It is the eye of childhood that fears a painted devil.’ I am not to be browbeat or wheedled out of any of my settled convictions. Opinion to opinion, I will face any man. Prejudice, fashion, the cant of the moment, go for nothing; and as for the reason of the thing, it can only be supposed to rest with me or another, in proportion to the pains we have taken to ascertain it. Where the pursuit of truth has been the habitual study of any man’s life, the love of truth will be his ruling passion. ‘Where the treasure I, there the heart is also.’ Every one is most tenacious of that to which he owes his distinction from others. Kings love power, misers gold, women flattery, poets reputation – and philosophers truth, when they can find it. They are right in cherishing the only privilege they inherit. If ‘to be wise were to be obstinate,’ I might set up for as great a philosopher as the best of them; for some of my conclusions are as fixed and as incorrigible to proof as need be. I am attached to them is consequence of the pains, the anxiety, and the waste of time they have cost me.(…)
If you proscribe all opinion opposite to your own, and impertinently exclude all the evidence that does not make for you, it stares you in the face with double force when it breaks in unexpectedly upon you, or if at any subsequent period it happens to suit your interest or convenience to listen to objections which vanity or prudence had hitherto overlooked. But if you are aware from the first suggestion of a subject, either by subtlety, or tact, or close attention, of the full force of what others possibly feel and think of it, you are not exposed to the same vacillation of opinion. The number of grains and scruples, of doubts and difficulties, thrown into the scale while the balance is yet undecided, add to the weight and steadiness of the determination. He who anticipates his opponent’s arguments, confirms while he corrects his own reasoning. When a question has been carefully examined in all its bearings, and a principle is once established, it is not liable to be overthrown by any new facts which have been arbitrarily and petulantly set aside, nor by every wind of idle doctrine rushing into the interstices of a hollow speculation, shattering it in pieces, and leaving it a mockery and a by-word; like those tall, gawky, staring, pyramidal erections which are seen scattered over different parts of the country, and are called the
Follies of different gentlemen! A man may be confident in maintaining a side, as he has been cautious in choosing it. If after making up his mind strongly in one way, to the best of his capacity and judgement, he feels himself inclined to a very violent revulsion of sentiment, he may generally rest assure that the change is in himself and his motives, not in the reason of things.”

William Hazlitt, in On Consistency Of Opinion (1821)

Simpsonizei-me

A Charlotte lançou o repto. Resultado: simpsonizei-me. É um processo criativo que aconselho a todos, em especial aos queridos:

João
Isa
Ricardo
Alberto
Luciano
’Rogério’
Nuno

O uomo singolare?

Observando a passeata mais ou menos organizada dos professores (e, por favor, não me venham dizer que aqueles ajuntamentos são fruto do acaso e não têm por detrás o trabalho de arregimentação dos sindicatos, por muito genuínas que sejam as manifestações dos professores e por muito válidas que sejam as suas queixas), e a horda de jovens imberbes (perdoem-me o pleonasmo) a erguer o punho e a arremessar ovos, ocorrem-me dois nomes. O primeiro, Nelson Rodrigues: "Toda a unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa de pensar". O segundo, Michael Oakeshott, referindo-se ao nascimento do individuo moderno, produto da falência da vida comunitária medieval: "The uomo singolare, whose conduct was marked by a high degree of self-determination and a large number of whose activities expressed personal preferences, gradually detached himself from his fellows. And together with him appeared, not only the libertine and the dilettante, but also the uomo unico, the man who, in the mastery of his circumstances, stood alone and was a law to himself". Definitivamente, estes ajuntamentos não são a minha chávena de chá. Até porque, pelo meio, mistura-se o que não deve ser misturado, não se discute verdadeiramente nada e promove-se a ideia de que a «rua» resolverá sempre tudo.

É, desde que foi escrito, um post record no que respeita a links

Se há coisa que me lixa (ia escrever «fode», mas «fode» é um pouco inapropriado para mim, que não me chamo maradona) é a porcaria de argumentos (ia escrever «merda», mas «merda» é um pouco inapropriado para mim, que não me chamo maradona) com que somos bombardeados para descrever a suposta e endémica burrice, ignorância e propensão para o abismo dos americanos nos mais diversos domínios, mas acima de tudo no que respeita à geografia (paradigma de tudo o resto). Regra geral, são apontados problemas ao nível dos neurotransmissores que impedem o americano típico de saber onde fica o Liechtenstein, Portugal ou, nos casos mais graves e politicamente úteis, África (para além de não saber cozer um ovo, atar os atacadores e contar até dezanove). Mesmo entrando em linha de conta com o facto – cientifico, acrescente-se - de que o homo lusitanus é um poço de sabedoria em matéria geográfica, cuja sensibilidade ao campo magnético da Terra e a capacidade de absorver e acumular referências visuais na memória RAM do seu encéfalo à cadência que 5000 gigabytes por segundo (transformando-o num GPS de flesh and blood) o tornam um campeão (ia escrever «cagão», mas «cagão é um pouco inapropriado para mim, que não me chamo maradona), não acredito que o português não falhe, de quando em vez, o sítio x, a região y ou o continente z. Façam o teste. Um dia destes, saiam à rua e perguntem aleatoriamente aos anónimos que encontrarem onde fica o Minnesota, Oklahoma, Boston ou a Nova Zelândia. O problema, meus caros, é sempre o mesmo: a) tomar os nossos conhecimentos - eles próprios falíveis (ia escrever «merdosos», mas «merdosos» é um pouco inapropriado para mim, que não me chamo maradona) e manhosos - pelos do resto da malta; e/ou b) achar que o país real é uma coisa quando, afinal, é outra. Há dias, nos Contemporâneos, observava as entrevistas de rua conduzidas pelo Bruno Nogueira a espécimes genuínos do povo, nas quais se testam conhecimentos de vária ordem. Fiquei esclarecido. Os americanos somos nós.




sábado, novembro 15, 2008

Dois em um: a nódoa e a bela

As últimas semanas têm sido certamente fecundas em boas antíteses retóricas. O assunto é o já conhecido problema do «Ensino», acompanhado da também clássica confusão dada à luz pela partes envolvidas que, camada sobre camada, se vai acumulando até à formação de uma compacta e palavrosa argamassa de argumentos contraditórios, difusos e, na maior parte dos casos, completamente à margem do que realmente importa observar, discutir e concluir. Convinha, por cima de toda a berraria envolvente, e descontando a provável arrogância deste gesto, alcançar o mínimo dos discernimentos.

Em primeiro lugar, é bom que se perceba uma coisa: a política de educação do actual governo está centrada num único e solitário objectivo: melhorar, por via administrativa, o índice de aproveitamento escolar e o ranking português no que respeita à média de notas dos alunos no contexto da OCDE/UE. Só. Apenas. Rigorosamente mais nada. A prova de que as coisas são assim está à vista de todos e só não vê quem estiver cego ou partilhar a obtusidade mental do Sr. Valter Lemos e da Sra. D.ª Margarida Moreira (a ministra aparenta ser bem mais inteligente embora sofra de uma espécie obstinação patológica, própria de quem pensa que veio à Terra com um qualquer desígnio místico e salvador). A doutrina e prática deste sinistro ministério da educação baseia-se na seguinte premissa ou, se quiserem, no seguinte ponto de partida: nenhum aluno pode (não é «deve», é «pode») ser excluído do ensino até ao 3.º Ciclo (inclusive). Os alunos não podem deixar de frequentar a escola – ou, como diria poeticamente o Sr. Valter Lemos, a escola não pode abandonar as crianças. Sob pena de adoecerem fisicamente? De empobrecerem espiritualmente? De não medrarem profissionalmente? Não: sob pena de piorarem as estatísticas. Os alunos podem, eventualmente, ficar «retidos» (eufemismo para «chumbados») mas só no caso de falharem, por infinitésima probabilidade, os mecanismos dissuasores e de bloqueio de que o ministério dispõe contra cataclismos desta natureza (incluí-se a chantagem e o controlo detractor que as direcções regionais exercem sobre as próprias escolas). Ainda assim, se essa calamidade se verificar, o aluno deve ser alvo de acompanhamento especial, como se fosse portador de doença infecto-contagiosa capaz de contaminar as estatísticas. O objectivo: recolocá-lo no caminho da verdade – nem mais, nem menos, do que o caminho por onde circulam os rebanhos dos que têm aproveitamento escolar (não interessa em que condições) e com isso concorrem para a cosmética do sucesso.

Decorre, do exposto, que tudo – literalmente tudo – deve ser encabeçado por esta orientação. O vergonhoso e abjecto abaixamento do nível de exigência e dificuldade dos exames (o recente caso da Matemática é disso um paradigma) faz parte dessa estratégia. O sistema de avaliação proposto pelo ministério – um inacreditável sistema metodologicamente cretino e burocraticamente cómico – mais não é do que uma forma de obrigar os professores e as escolas a orientar o ensino no sentido do sucesso à força. Entendamo-nos: um sistema de avaliação de professores que tem por base (ou pelo menos como um dos pilares) as notas dos alunos, a taxa de reprovação e os «desvios» verificados relativamente aos «objectivos» propostos no início do ano, mais não é do que um sistema que pretende impor à força o sucesso escolar, e que redunda num Catch-22: se o professor quantificar como objectivo, ou colocar como mera hipótese, a reprovação de alunos que, em seu entender, não se encontrem preparados para passar de ano (até para se defender face a eventuais desvios no final do ano lectivo), manchará indelevelmente o seu «documento»; se não o fizer e chumbar alguns alunos, estará lá o desvio face aos «objectivos» a prejudicar a sua própria avaliação. Independentemente de haver professores ou sindicatos, em quantidade ou percentagem incerta, cujos protestos contra «este» sistema de avaliação escondem a vontade de nunca virem a ser avaliados, lutar contra este sistema de avaliação e contra a doutrina estalinista subjacente às actuais políticas de educação, é um imperativo de ordem moral.

Tal como nos números do desemprego, este governo transfigurou o ministério da educação numa máquina de «encher chouriços». Se a expressão for demasiado pimba e inescrutável para os vossos cândidos e sensíveis intelectos, direi apenas que, no Ensino Público em Portugal, palavras como «qualidade», «exigência», «responsabilidade» e «disciplina» foram «excluídas» da função «ensinar» - ela própria uma função secundária e esquecida, algures entre os corredores do ministério e os gabinetes do Sr. Valter Lemos e da Sra. D.ª Margarida Moreira.


Esta mulher é muito bonita

Bonjour Tristesse


Would you like to be sad?
Would you like me to teach you?
Well, you can learn to be sad
But you must practice like I do

You must follow directions
And learn it right from the start
There isn't a short cut
It must come from your heart

Well there are those who are happy
And there are those who are wise
But it's the truly sad people
Who get the most out of life”


Sad Song – David Byrne

”Estou disposto a aceitar que a tristeza é um instrumento de crescimento intelectual, ético e moral injustamente desprezado”

Estás disposto? Não devias. Arrisco opinião desinteressante sobre tema distinto, começando por dizer uma banalidade: um dos pilares de toda criação e evolução literária, artística e filosófica dos últimos dois séculos (XIX e XX, para não recuar mais no tempo) assentou num longo e (ok, concedo) intermitente pacto com o pathos que a condição humana – as suas misérias, fifias, falências, excessos e crueldades – proporcionou. A tristeza – e para os devidos efeitos considere-se «tristeza» como o estado de quem está triste (simples, não é?) - foi sempre uma espécie de concubina no leito criativo de poetas, prosadores, pensadores, músicos, humoristas, vagabundos e varredores de rua. Tennyson e Byron prestaram-lhe devoção. Keats arriscou uma Ode to Melancholy. O nosso Cesário Verde sorveu-a como ópio. Pessoa idem. Larkin reconheceu-a e expô-la à sua normalidade quotidiana. Camus, Plath, Akhmatova, Beckett, Cioran... Os exemplos levar-me-iam a não fazer mais nada este fim-de-semana (e eu tenho uma casa para limpar). O século XX, por exemplo, foi um século em que a colheita de barbaridades e abjecções humanas mandou às malvas a mais leve esperança de correlação entre a produção humana (comportamental e moral) e a putativa evolução civilizacional. Resultado: produziram-se belíssimas mas terríveis obras sob a égide da tristeza, da melancolia, da angustia, da consternação. A tristeza tem sido, e continua a ser, um valorizado e reconhecido instrumento de crescimento e produção intelectual, moral e ético. Para além de que, lets face it: a tristeza e a melancolia encerram em si uma espécie de chamamento catártico que, em condições ideais, confere clarividência e recentra a nossa postura face à vida tal qual ela é.

O humor tem vindo a ganhar espaço? Em contraponto à tristeza ou ao estado de melancolia? Duplamente não. Não é uma questão de ganhar espaço. Há uma espécie de «complementaridade» (depois falamos de exemplos práticos de «complementaridade») entre humor e tristeza - mais do que isso: miscigenação (eu sempre quis empregar esta expressão). Existem práticas humorísticas baseadas na tristeza e na miséria humanas, assim como se reconhecem laivos de humor lancinante e comicidade quase perversa em obras profundamente marcadas pela tristeza, pela alienação e pela desolação (Beckett é um bom exemplo). Agora, com toda a franqueza, não sei se era sobre isto que falavam. Peço desculpa.

sexta-feira, novembro 14, 2008

Caladinhos

Vasco Pulido Valente in Público 14/11/2008

Uma polícia

A natureza de um regime tanto se mostra nas pequenas coisas como nas grandes. Até muitas vezes se mostra melhor nas pequenas do que nas grandes. A cegueira mística da sra. ministra da Educação e um secretário de Estado que implicitamente ameaça "trucidar" professores não revelam, por exemplo, tão bem o carácter autoritário e "policial" do Estado de Sócrates como um pequeno episódio na EPUL (a Empresa Pública da Urbanização de Lisboa). Sucedeu que um funcionário da EPUL, Almeida Faria, recebeu um e-mail (de origem brasileira) com o retrato de Obama e a inscrição "Não vote em branco"; e o reenviou a uns tantos colegas com uma curta observação pessoal: "Ainda se lixam que o vão ter como presidente". Um desabafo errado (os portugueses nunca poderiam "ter" Obama como Presidente) e, em si mesmo, mais do que banal (48 milhões de americanos concordaram com ele).

Mas, presumivelmente por efeito de uma denúncia, a direcção da EPUL tomou conhecimento do caso e resolveu levantar um processo disciplinar a Almeida Faria. Há neste caso três pontos que merecem exame. Primeiro, Almeida Faria já andava em litígio com a EPUL por causa de uma questão pessoal. Segundo, para distribuir o e-mail de Obama, Faria de Almeida utilizou um computador da própria EPUL, coisa que o regulamento não permite. E, terceiro, segundo a advogada da direcção, o e-mail era "discriminatório em função da raça" e fazia "juízos valorativos" (a hostilidade a Obama) não só "reprováveis", mas "merecedores de censura ético-social", porque de toda a evidência ofendiam "direitos fundamentais".

Não vale a pena insistir no primeiro ponto, excepto para notar que o ambiente da EPUL não deve ser muito favorável a Almeida Faria. Quanto ao computador, é público e notório que centenas de milhares de funcionários públicos não se coíbem de usar em plena impunidade os computadores (como os telefones) do Estado. Fica a "função inquisitorial" da EPUL. O processo levantado a Almeida Faria não passa de um processo ideológico por "crimes" contra a ortodoxia oficial e a preferência por Obama do PS e de Sócrates. No seu zelo, a acusação não percebe o carácter irónico do e-mail original nem a legitimidade democrática do comentário de Almeida Faria. O que a EPUL quis foi esmagar o herético. O funcionalismo é hoje vigiado por uma "polícia do pensamento" minuciosa, activa e protegida. Ninguém está seguro.

segunda-feira, novembro 10, 2008

Cartilha socrática

(versão condensada)

1. Se o adversário/oponente tiver exercido funções no anterior governo do PSD/CDS liderado por Durão Barroso, deverá dizer-se o seguinte:

“Que eu saiba, V. Exa. pertenceu ao governo de Durão Barroso, que nada fez relativamente a esta matéria.”

2. Se o adversário/oponente tiver exercido funções no anterior governo do PSD/CDS liderado por Santana Lopes, deverá dizer-se o seguinte:

“Que eu saiba, V. Exa. pertenceu ao governo de Santana Lopes, que nada fez relativamente a esta matéria.”

Neste caso, acompanhar a anterior frase com um sorriso de chacota, uma vez que se trata de Santana Lopes.

3. Se o adversário/oponente tiver exercido funções no anterior governo do PSD/CDS mas o assunto em discussão estiver relacionado com Finanças Públicas, poderá dizer-se, em alternativa, o seguinte:

“Terei que lembrar a V. Exa. qual era o valor de défice no seu governo? É que os senhores estiveram no governo e nada fizeram para controlar o défice – antes pelo contrário.”

4. Se o adversário/oponente pertencer ao PSD ou ao CDS mas não tiver desempenhado quaisquer funções em anteriores governos do PSD/CDS, deverá argumentar-se da seguinte forma:

“Que eu saiba, V. Exa. pertence a um partido que quando esteve no governo nada fez relativamente a esta matéria.”

5. Se o adversário/oponente pertencer ao PSD ou ao CDS e estiver em discussão matérias relacionadas com Obras Públicas, deverá dizer-se o seguinte:

"Que eu saiba, quando o vosso partido estava no governo, defenderam precisamente o contrário do que agora defendem, dando agora o dito por não dito."

Em todas as respostas adoptar, sempre que possível, uma postura de indignação, por um lado, e de vitimização por outro, dando a entender que os argumentos contrários não passam de ataques de forças de bloqueio.

Nota Final: o prazo de validade desta cartilha é o infinito.

domingo, novembro 09, 2008

Deixem-me colocar a foto desta grande e bonita mulher

Houve

Houve, em tempos, uma banda que fez um álbum pop decente e que, ainda hoje, merece o meu respeito. Há, entretanto, por aí uma banda com o mesmo nome que tem feito o possível e o impossível para estragar renovadas audições do tal álbum decente que, ainda hoje, merece o meu respeito. Seria bom que acabassem com o brincadeira antes que eu perca o respeito por um álbum decente que não tem material e ontologicamente culpa.


Viena

Se um dia desaparecer deste mundo (é o mais certo, dizem) e me for dada a divina oportunidade de voltar e de poder escolher a época e o lugar, não hesitaria um minuto: Viena, final do século XIX, princípio do século XX. E se pudesse, ainda, escolher onde, quando e como voltaria a morrer, escolheria o mesmo local. O ano: 1938. A forma: baleado após ter tido o supremo prazer de espetar um tiro right between the eyes num filho da p*** de um nazi (um qualquer, não sou esquisito). Em alternativa, faria o mesmo que este homem.

egon

Oh yeah

sábado, novembro 08, 2008

Pois é

Convém que se diga uma coisa sobre o futuro próximo dos EUA. Qualquer que fosse o vencedor destas eleições, mas mais ainda no caso de Barack Obama, é muito provável que assistamos ao regresso do isolacionismo americano, actualizado aos dias de hoje. Os tempos não estão para brincadeiras. Obama sabe-o. Aliás, Obama disse-o velada ou descaradamente durante a campanha: esta casa tem de ser arrumada. Não será pois de admirar, sendo Obama, ainda para mais, um céptico dos espontâneos e salvíficos efeitos autoreguladores da interacção livre entre indivíduos em plena economia de mercado (Adam Smith, estão a ver?), que se assista à implementação de medidas proteccionistas (que serão vendidas sob a capa de medidas «reguladoras» com o beneplácito do Sr. Soros) e à adopção de políticas externas que tendam para uma neutralidade «conveniente». Boas notícias, portanto, para os que sempre acharam um «abuso» a atitude policial dos EUA na cena mundial, tanto mais que, segundo a doutrina, eles só actuavam por «interesse». Terá chegado, provavelmente, a vez da velha Europa assumir os comandos no que respeita, por exemplo, a operações militares de contenção de comportamentos assassinos de regimes ou contra-regimes liderados por carniceiros e fundamentalistas da pior cepa. Estamos a falar de dinheiro, vidas, suor e lágrimas. É um trabalho sujo que alguém terá que fazer. Ou talvez não. No fundo, há quem pense agora que com Barack Obama o amor e a benevolência invadirão dentro em breve os corações dessa potencial boa gente. Barack Obama sabe que não. Mas para já, é assunto que não lhe interessará muito. Existem unfinished internal businesses por atender.

Ainda vou a tempo de colocar no ar o melhor sketch dos Gato Fedorento a parodiar o nosso PM?

(Desta vez, o trabalho de caracterização do programa fez um excelente trabalho. Ricardo de Araújo Pereira está muito parecido com o nosso PM. Notável.)

Então...

...este gajo tem um blogue e não me diz nada?!

(ou Como É Que Eu Posso Ser Estupidamente Distraído)

quarta-feira, novembro 05, 2008

Um dia histórico

Manifestei-me muito pouco sobre as eleições nos EUA. Por duas ordens de razão. Nenhum dos candidatos (Obama, Hillary, McCain) me pareceu particularmente brilhante. McCain – um homem sério e honesto – apresentou-se como uma versão mais liberal e inteligente de George W. Bush, apregoando os slogans que são queridos ao seu eleitorado (menos impostos, menos Estado, combate sem tréguas ao «inimigo», etc.); Hillary nunca se conseguiu deslocar um milímetro das ideias estafadas que o marido já apregoava há quinze anos atrás e pareceu sempre envergar o estandarte da «velha política» de que toda a gente está mais ou menos enfastiada; Obama foi sempre demasiado «redondo» e difuso nos seus discursos, embora tivesse conquistado, como nenhum outro candidato, a mensagem da «mudança» (ainda para mais sendo um negro na corrida à Casa Branca). Mas nenhum candidato foi particularmente brilhante e «assertivo».

Por outro lado, as manifestações de apoio a Obama por parte das finas consciências europeias – sobretudo à Esquerda – deixaram-me estarrecido. Desde cedo passou a ser muito mais interessante assistir ao desfile de louvores e elogios a roçar a histeria na direcção de Obama, com a notável e previsível dose maciça de ingenuidade, do que propriamente comentar as eleições. Assistir a este espectáculo, no silêncio da plateia, foi entretenimento preferencial durante os últimos meses.

Ontem, Barack Obama venceu as eleições. Tornar-se-á no primeiro presidente negro da história dos EUA, o que só por si é histórico. Tendo em conta os debates a que assisti, as trapalhadas do lado do candidato republicano e as expectativas que por aí se foram avolumando, ganhou o homem certo. Mas com a vitória de Obama, convém referir quem perdeu com esta eleição.

A Esquerda
A Esquerda passou a ter um problema entre mãos e dentro de algum tempo (um a dois anos, no máximo) estará, uma vez mais, em plena aula político-ideológica.

O bode expiatório mais querido da esquerda – Bush Jr e respectiva administração vampírica – vai desaparecer de cena. Isso constitui, obviamente, um problema grave. O alvo preferencial, o «idiota» providencial, o «palhaço» a quem se atribuíam os males do mundo desapareceu. E agora?

Por outro lado, aquilo que une McCain a Obama é muitíssimo mais forte do que o que os separa: o seu país e a defesa dos seus interesses e cidadãos. Mais tarde ou mais cedo, os que apoiaram fervorosamente Obama da mesma forma que atacavam de forma virulenta George W. Bush, aperceber-se-ão do monumental gap entre aquilo que imaginaram que seria Obama e o que Obama se revelará na pratica. Ao contrário do que se vaticina, Obama não vai mandar retirar as tropas do Iraque amanhã nem o irá fazer de uma só vez. Ao contrário do que para aí se pensa, Obama sabe quem são os inimigos dos EUA e estes não são muito diferentes dos que Bush elegeu. Ao contrário do que se supõe, em jeito de wishful thinking, em matéria ambiental os EUA não vão sacrificar a sua economia e o emprego para cumprir Quioto. Ninguém vai impor a Obama calendários. As metas de redução de gases poluentes serão ditadas internamente pelo governo Americano. Agora e no futuro, como no passado. Finalmente, em matéria de política externa, Obama não irá sentar-se à mesa com o boçal do Chavez, beberricar um chá com a família Castro ou desviar um milímetro a estratégia de impedir que o Irão possa desenvolver o seu programa nuclear. Ponto.

Os anti-americanos
Os que regularmente acusam os EUA de ser uma «ditadura» (Saramago e Companhia); os que consideram os americanos um punhado de basbaques acéfalos e ignorantes (a generalidade dos que gozam com o facto do americano desconhecer onde fica Portugal); os que acham que a História dos EUA é um conjunto desinteressante e recente de insípidos episódios que nada adiantaram ao mundo, ao contrário de França, do Reino Unido ou mesmo do «velhinho» Portugal; toda essa gente estará, por esta altura, e se ainda lhe restar uma quantidade mínima de neurónios, a interrogar-se “como é que isto aconteceu?”. Então aquele regime ditatorial e elitista elegeu um negro?! Aquela gente estúpida disse não à doida da Palin?! Colocaram um «socialista» na presidência dos EUA?! As eleições registaram uma afluência histórica?!

George W. Bush
Nas vésperas desta eleição, a popularidade de Bush igualou a de Nixon. Significa isto que McCain se portou muito bem e que o partido republicano soube expurgar destas eleições o quisto W. Seja como for, Bush sai desta história em muitos mais lençóis. Porque será?...

segunda-feira, novembro 03, 2008

Isso queria eu

Chicote

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