O MacGuffin: novembro 2007

quinta-feira, novembro 29, 2007

Deborah

Kerr. Com 'k'.

Annex20-20Kerr20Deborah_01

quarta-feira, novembro 28, 2007

A redenominação que se impunha

terça-feira, novembro 27, 2007

Feist

1, 2, 3, 4


I Feel it All (no autocarro)


My Man My Moon


When I Was a Young Girl (live in Paris)

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sexta-feira, novembro 23, 2007

Um aviso à navegação

Afirma Teixeira dos Santos: «2008 será de "tolerância zero" na luta contra fraude e evasão fiscais».

Resumindo e descodificando: em 2008 vamos assistir à perseguição implacavelmente pidesca do pequeno contribuinte, às escapadelas, nas barbas do fisco, dos grandes contribuintes e, last but not least, à “tolerância infinita” imposta pelo Estado aos seus credores.

PS: Já agora, Sr. Ministro, se não for pedir muito, agradecia que o fisco me devolvesse os cerca de 1.500 euros respeitantes a uma reclamação graciosa apresentada há mais de seis meses, dinheiro que me pertence e sobre o qual não vou receber juros de mora nem a receita da coima pelo atraso no pagamento por parte dos serviços que V. Exa. tão nobremente tutela. Muito obrigado e bom fim-de-semana.

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Está a perder-se um grande escritor

A avaliar pela argumentação retorcidamente fantasiosa, pela prosa a espaços mística e pela capacidade de contornar a realidade rumo à ficção, temo que o mundo assista ao definhar de um talento. O mundo tem no Daniel Oliveira um escritor de qualidade cujo engenho se encontra amordaçado por um sistema democrático castrador. A produtividade literária do Daniel encontra-se claramente refém de uma sociedade burguesa nos modos e liberal nos costumes. Palpita-se na sua escrita o fulgor e o vigor - quase animal - de um grande intelectual/escritor. Vivesse o nosso Daniel na louvável Venezuela, ou fosse mesmo nado e criado por terras de Bolívar, e estou certo que assistiríamos ao ressurgimento de um Orwell, de um Camus ou, quiçá, de um Milosz. Isto, claro, partindo do principio de que o nosso Daniel estaria contra o modus operandi de Chávez e a ideia que este tem do que é uma sociedade livre, próspera e equitativa, encontrando-se, por isso, num limbo existencial entre a angustia e o desespero, o qual, como sabeis, é terreno fértil para prosa de qualidade (daquela «fracturante»). Já para não falar na eventual performance pública do nosso Daniel num Eixo do Mal venezuelano, a emitir numa qualquer estação estatal, onde o direito ao contraditório é consagrado por obra e graça do Hugo.

Sim, meu caros leitores: sou um ingénuo incorrigível.

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quarta-feira, novembro 21, 2007

Entrevista a Vasco Pulido Valente

(in Expresso 17.11.2007)

Por que escolheu morar neste bairro?

Era barato e a construção é boa. Eu e o porteiro, um homem extraordinário de grande coragem e de grande carácter, fomos as primeiras pessoas a habitar este prédio. Já cá estamos há 25 anos.

Tem o Colombo mesmo à porta. Alguma vez lá foi?

Não frequento. Os restaurantes são muito maus e tenho horror a fazer compras. Vou lá comprar sanduíches e coisas assim, «junk food».

Nem à Fnac vai?

Pouco. Compro livros na Amazon.

Já se «googlou»? Sabe que tem 61 mil entradas?

Não sabia. Já o fiz e apareceu-me uma coisa desconexa. No que diz respeito à Internet continuo a ser muito conservador. Quando tenho uma dúvida prefiro consultar uma enciclopédia.

Aos 50 anos publicou «Retratos e Auto-retratos», onde se interroga se ainda haveria alguma coisa para fazer aos 65 anos. E há?

Pouca coisa.

Por que resolveu escrever sobre quem era aos 50 anos?

Não resolvi. O Esteves Cardoso, na altura director da «K», desafiou-me e lá acabou por me convencer a escrever aquilo.

Utilizou um registo intimista, pouco habitual na sua escrita. Foi difícil?

Nem por isso, levei uma tarde.

Que livro é este, «Ir para o Maneta», que vai publicar agora?

Foi feito a partir de um ensaio que escrevi entre 1973 e 74, sobre a revolta popular de 1807-1814 contra os franceses. Depois da edição portuguesa da minha tese de doutoramento, O Poder e o Povo, andava muito preocupado com a relação entre a acção popular e a organização. Agora teve uma revisão muitíssimo mais profunda e é só parte do ensaio original.

Quem era o «Maneta»?

Um general de Junot, chamado Loison. Não tinha um braço. Era conhecido assim e foram as tropas dele que fizeram as grandes campanhas de contraterrorismo em resposta à rebelião popular de 1807. Tinha uns métodos drásticos. Para dar o exemplo, chegava a uma aldeia e matava velhos, mulheres e crianças. Matou a população de várias aldeias. De tal maneira que ficou a expressão: «ir para o maneta», significa morrer.

O «Maneta» quase não aparece.

A personagem é o povo. Não tenho necessariamente de contar a história do Loison. É a história das pessoas que vão para o maneta.

O seu avô materno era jacobino e partidário de Afonso Costa. Privou com ele?

Muito. Eu tinha 23 anos quando morreu.

Foi a esse avô que foi buscar o nome Pulido Valente?

O meu nome civil tem uma cacofonia e duas sibilantes: Vasco Correia Guedes. É feio!

Quando adoptou Pulido Valente?

Aos 16, 17 anos, quando comecei a escrever. Fazia todo o esforço para ter uma prosa fluente e foneticamente boa, portanto ia logo contra o nome. Comecei a escrever artigos para os jornais da universidade e aquilo irritava-me.

O seu pai achou graça?

Não. Também não se zangou. Há pessoas que resolveram embirrar com isso. Essa história do meu nome é uma coisa ridícula. Alias, é muitíssimo vulgar nos escritores! Como todos os historiadores, sou um pouco escritor, é um género literário.

Considera-se um grande escritor?

Não me considero um grande historiador, é natural que não me considere um grande escritor. Não fiz uma grande carreira de historiador em Portugal. Não é possível.

Porquê?

Porque a história portuguesa é uma história paroquial. Os grandes acontecimentos que mudaram o mundo não aconteceram em Portugal.

Os Descobrimentos não mudaram a História?

Ah, sim! Mas não sou um historiador económico, sou um historiador político. Daí que estivesse interessado em grandes temas, como a Revolução Francesa, o nazismo, as duas Grandes Guerras, etc.. Quando comecei não se admitiam teses sobre a Europa. E a mim não me interessava escrever sobre história portuguesa.

Mas passou a vida a fazê-lo.

Pois passei. Infelizmente.

Um historiador disse que trocava a vida por um dia em Roma. E o Vasco, que período escolheria?

Roma, com certeza. Durante as guerras civis, no fim da república.

Seria César?

De maneira nenhuma! Escolheria o papel de um senador bem no centro da política. Talvez um dos senadores cesaristas.

E se fosse no século XX?

Gostaria de ter estado um dia no cume do poder de Hitler para observar como era aquela gente. Mas não como alemão. Como um embaixador americano, para ver se percebia melhor. Há muitas coisas que ainda não percebo e já li muito.

Quantos livros tem?

Não faço ideia. Todos os anos deito fora uns 200, 300, para ganhar espaço.

Deita fora livros?

Vendo a alfarrabistas e dou alguns.

Lembra-se dos primeiros livro que leu?

A Condessa de Ségur, com certeza. Ainda me lembro do nome do burro de Memórias de um Burro, o Cadichon.

Com que idade foi para a escola?

Talvez quatro, cinco anos. O meu pai trabalhava na Robialac, era engenheiro químico e director fabril. Foi o emprego dele até ao fim da vida. A fábrica era numa pequeníssima quinta, em Gaifães da Maia. Tinha 14 operários. Isto passava-se em 1947. Estive lá ano e meio. Os meus pais acharam que precisava de ir para a escola e puseram-me num colégio interno em Carcavelos, o St. Julian’s School.

Custou-lhe a adaptar-se?

Um bocadinho. O meu avô ia buscar-me aos fins-de-semana. Entretanto a fábrica foi transferida para Sacavém e os meus pais vieram para Lisboa. A minha infância foi um bocado sui generis. Lia muito. Os meus pais tinham uma vida austera, não eram muito sociáveis. Até certa altura, deram-se com os amigos comunistas.

Eram militantes activos. Recebiam clandestinos?

Então não recebiam!

Privava com eles?

Claro. A minha mãe levava os filhos do Octávio Pato ao médico. Tinha facilidades, era filha do meu avô Pulido Valente.

O Álvaro Cunhal ia a sua casa?

Não. Mas os meus pais conheciam-no muito bem. Os meus pais recebiam gente. Havia lá um quarto que estava sempre cheio de militantes. Só comecei a ter uma vida social minha na faculdade. Também entrei muito novo, aos 16 anos.

Era bom aluno?

Não. Nunca fui.

Tinha negativas?

Tive duas. No 5.º ano do liceu fiquei tapado por faltas. No final do 4.º ano já tinha sido expulso por mau comportamento do Liceu Camões e passei para o Pedro Nunes, não punha os pés nas aulas, faltei a dois testes, daí as negativas. Para o meu pai, uma negativa era tão impensável como passear nu no Rossio. Acusou-me de «ser um vadio e um parasita» - palavras dele - e, para salvar o ano, fui imediatamente exilado para o colégio Nuno Alvares, em Tomar, uma espécie de reformatório. Foi um castigo à séria e uns meses muito infelizes.

Sobre si escreveu: «Era velhíssimo na adolescência, adolescente na maturidade…»

Essa frase tem a ver com os hábitos que tinha. Não fazia o que as crianças normais fazem. Não havia oportunidade. Os meus pais davam-se com aquelas pessoas, que não tinham filhos ou filhas que me interessassem.

Era um solitário?

Sim. E durante muitos anos gostei de viver sozinho. E não é só gosto, é uma necessidade. Quando vivia conjugalmente com alguém, se não conseguia estar um ano ou dois sozinho, começava a sentir falta, encorajava a outra pessoa a viajar, por exemplo.

Não é possessivo.

Não era. Agora sou. Mudei um bocadinho com a idade.

Já precisa das pessoas?

Da pessoa.

No seu casamento com a jornalista Constança Cunha e Sá, com que casou duas vezes, viveram em casas separadas.

Já não sou muito assim. Não gosto tanto de viver sozinho como gostava.

Voltando ao comunismo. Os seus pais tentaram doutriná-lo?

A mim? O doutrinamento não se faz assim, aos dez anos uma pessoa não descola dos pais. Comecei cedíssimo a ler livros sobre política.

Foi contaminado por essa formação?

Não muito. Privava com o meu avô, que exercia uma influência antagónica. O avô Pulido Valente foi um dos primeiros seguidores do positivismo lógico e da filosofia analítica.

Foi discípulo do Júlio de Matos…

Em todas as conversas que tínhamos insistia muito comigo e perguntava-me: «O que queres dizer com isso? Onde é que leste?» Isto imunizou-me contra o marxismo.

O seu avô foi uma influência mais determinante do que o seu pai?

Intelectualmente sim. Era muito bom professor, tinha muita paciência. Ensinou-me a ouvir ópera e a ler. Tinha aquela cabeça que não me deixava vagabundear, nem viver instalado na asneira, e na imprecisão. Nem na vaidade.

Participou nas lutas académicas de 1962. Posicionava-se onde?

Fazia parte de um «grupúsculo». E todos os «grupúsculos» eram, ou diziam-se, de extrema-esquerda. Eu pertencia a uma coisa chamada MAR (Movimento de Acção Revolucionário) - achavam este nome muito bonito - cujo chefe era Jorge Sampaio.

E o que faziam?

Nada.

Teve problemas com a PIDE?

Fui preso uma vez, uns dois meses, por causa de um brincadeira estúpida de uma amiga. Ela foi à Jugoslávia e escreveu uma carta a não sei quem. Por cima de um envelope escreveu: «Camaradas, a revolução está a caminho». E mandou o envelope para mim. Aquilo via-se em relevo, de maneira que fui parar a Caxias.

Esteve dois anos em Direito e desistiu. Na sua cabeça qual seria o seu percurso profissional?

Não sabia. Sabia que queria escrever. Desisti de Direito, fui para Inglaterra, voltei e fui estagiar para o «Diário de Lisboa». Estive lá dois meses, houve uma greve, que foi contada em dois romances onde também apareço, e que acabou numa demissão de uma série de gente. Por solidariedade, também me demiti.

Vivia com os seus pais?

Às vezes sim, outras, não. Houve um período em que aluguei casa com amigos.

Tinha carro?

Nem pensar!

Mas queria ter um Aston Martin…

Isso era porque a Françoise Sagan tinha um Aston Martin e guiava descalça. Era a minha ideia de escritor.

Formou-se em Filosofia. Por que não escolheu logo História?

O curso era mau e chato. Tinha maus professores e um programa péssimo. Filosofia era mais ou menos a mesma coisa.

Viveu a revolução sexual dos anos 60?

Fui para Oxford em 1968. Essas coisas já tinham acontecido e não havia vestígios quando lá cheguei. E estava casado.

Experimentou alguma droga?

Fumei um charro, claro! Odiei. Fique enjoadíssimo, vomitei. Uma vez fui chamado a casa de uns amigos que tinham tomado LSD e depois tomaram uns remédios para sair daquele estado e houve para lá umas cenas de faca e alguidar. Não sou da cultura da droga, sou da cultura do álcool.

Com que idade casou a primeira vez?

Aos 23 anos.

Escreveu que queria casar com a mulher mais bonita do mundo.

E a Maria Cabral era uma mulher lindíssima e talentosíssima.

Quanto tempo durou esse primeiro casamento?

«On and off», sete anos.

Foi um casamento tradicional?

Digamos que cada um fazia mais ou menos o que lhe apetecia, que é uma maneira civilizada de descrever uma situação.

Tiveram uma filha.

Patrícia Cabral. Também não usa o meu nome.

Têm uma relação próxima?

Não.

Participou no 25 de Abril?

Tinha regressado de Oxford. Fui para a rua ver. Não percebia muito bem o sentido daquilo. Não conhecia aquela gente, nem percebia o que queriam. Não estava no segredo das coisas. Suponho que ninguém estava. Na altura vivia com a Maria Filomena Mónica e combinámos: ela iria esperar o Soares e eu o Cunhal. Quando cheguei ao Cunhal, lá estavam a minha mãe e todos os velhos comunistas da minha infância.

Comoveu-se?

Eu? Não. Não sou muito dado a emoções. Sou mais dado a angustias e ansiedades. Sou daquelas pessoas que verifica três vezes se fechou a porta e a torneira antes de sair de casa.

Foi militante do PSD?

Fui durante a AD. Saí no governo de Balsemão, tornei a ser militante com Fernando Nogueira e depois não precisei de me demitir. Houve uma renovação dos ficheiros, não me reinscrevi.

Como conheceu Sá Carneiro?

Por acaso, num restaurante em Cascais. Ele estava a jantar sozinho, começámos a conversar e chegámos a conclusão que estávamos de acordo sobre as questões principais da política. Disse-me: «Venha trabalhar comigo». Estava numa fase sem saber muito bem o que iria fazer, aceitei. Durante um ano e meio só trabalhei em política. Fez-se a Aliança Democrática. Ganharam-se as eleições e Sá Carneiro convidou-me para secretário-adjunto.

Recebia como profissional do PSD?

Não, como membro do governo-sombra.

E chegou a secretário de Estado.

Primeiro fui secretário de Estado-adjunto. Título intraduzível noutras línguas. E uma das funções que tinha nesse cargo extraordinário era arranjar um secretário de Estado da Cultura. Não consegui.

Quem é que convidou?

Isso não vou dizer. O Sá Carneiro começou a enervar-se porque tinha de apresentar a lista de governo ao Eanes, com quem na altura não se dava nada bem. Tinha de a entregar até às oito e ligou-me: «Já tem o SEC?». «Não». «Então vai você». «Eu, porquê?». Ele disse que não podia levar a lista incompleta e como eu estava encarregue de arranjar um SEC era justo que fosse eu. Ainda lhe disse: «Olhe que vai ser um fiasco». E ele: «Se for um fiasco sempre se ganha tempo».

Teve um ano no governo, viu o poder por dentro. O que aprendeu?

Não há ministro que chegue ao governo e que não queira ser bem visto pela casa, como eles dizem. E querem duas coisas: promoção e espaço. O que aquela gente quer é mais espaço e mais pessoal. E em 90 por cento dos casos fazem coisas que não precisam de ser feitas.

A sua experiência como deputado correu mal.

Correu mal e conta-se rapidamente: fui trabalhar com o Fernando Nogueira porque achava que era necessário fazer algumas reformas urgentes pós-cavaquistas. Pouco depois, Fernando Nogueira demitiu-se e demiti-me também. Acabou.

Apoiou, em 1985, a candidatura de Mário Soares à presidência e fez parte do MASP (Movimento de Apoio Soares à Presidência). Porquê?

Achava necessário que fosse eleito. Foi um período simpático e diverti-me muito, estavam lá os meus amigos da altura. Tenho um grande respeito e admiração pelo doutor Soares. E ainda por cima gosto muito dele. Porque podia ter estes sentimentos e detestá-lo.

Votou nele nas últimas eleições?

Por causa da coluna no «Público» nunca digo em quem voto.

Nas últimas presidenciais tentaram ter o seu apoio para outra candidatura. Não almoçou com Cavaco Silva?

Almocei com ele, sim. Até fui eu que lhe pedi que se candidatasse. Porque achei que Portugal precisa de um polícia.

O poder interessa-lhe?

Não.

Mas tem poder ou, se preferir, contra-poder.

Quanto muito tenho influência. Poder é fazer ou impedir que outros o façam. Se quiserem uma metáfora, sou um chefe do estado-maior, não o comandante.

Foi almoçar com Cavaco antes dele se candidatar. Se isso não é ter poder…

Fui almoçar com o Cavaco Silva porque os grandes negócios em Portugal fazem-se com o Estado ou com informação que vem do Estado. Só a presença dele em Belém coíbe muita gente.

Os políticos pedem-lhe conselhos antes de tomarem de decisões?

Não. As conversas com os políticos não servem para decidir nada. Na minha vida tive duas ou três conversas importantes com políticos.

E com Sócrates, já teve alguma conversa?

Nem me lembro de o ter visto em pessoa.

É um político que ficará na história?

O Sócrates?! Não. É de uma pavorosa mediocridade. Pior: é um homem que tem uma linha de pensamento convencional. Que assenta em todos os lugares-comuns deste tempo e reproduz de uma maneira tosca esses mesmos lugares-comuns.

Mas é um Governo com impulso reformador.

A mim não me parece. Estas coisas do ensino e da investigação não levam a nada. Qualquer pessoa que tenha passado umas semanas numa genuína universidade não pode olhar para isto senão com tristeza.

O que pensa do actual momento do PSD e do novo líder, Luís Filipe Menezes?

O regresso de Santana Lopes só pode complicar as coisas. Vi o primeiro debate na Assembleia da República e achei aquele ajuste de contas com Sócrates lamentável. Com o Menezes estou muito surpreendido. Está mudo e quedo. Disse meia dúzia de coisas sem importância e ainda não fez nada. Não sei do que está espera ou se está a planear alguma coisa.

Enquanto cronista, a sua principal característica é o pessimismo.

Não concordo nada. Optimismo e pessimismo são sentimentos que eu não tenho. Às vezes parece-me que a vida portuguesa vai correr bem, outras vezes parece-me que vai correr mal, mas isso é irrelevante. Não escrevo fundado num sentimento ocasional.

Mas tem uma maneira de ler o mundo em que só vê o que está mal.

Não. Tento ser realista e ver as coisas como elas são e não como eu gostava que elas fossem. Se as coisas são más, então…

Nunca ninguém se zangou consigo por causa das crónicas?

De políticos não me lembro de ninguém. Há duas pessoas que se zangaram, a Clara Ferreira Alves…

Pôs-lhe um processo por causa do que escreveu no seu blogue, «O Espectro». Onde insinuava que não era licenciada.

Foram vinte linhas. É diferente do que escrever para um jornal. Mas está em segredo de justiça, não vou falar nisso.

E a outra pessoa?

Foi o Miguel Sousa Tavares.

Como sabe que ele se zangou?

Encontrei-o num restaurante e não me falou.

Vai ler «Rio das Flores»?

Já li.

E?

Não digo nada. Irá perceber em breve.

É verdade que, tal como o próprio contou na TSF, conheceu Miguel Sousa Tavares quando o convidou para escrever um livro sobre a sua passagem pela cultura?

É. Tinha lá uma data de papelada, queria contar aquilo mas não tinha tempo, nem paciência para o fazer. Não queria um elogio histórico. Queria um livro, que iria superintender.

Porque é que lhe respondeu num artigo inteiro? Não bastava uma nota?

Porque ele disse nessa entrevista ao «Expresso» que eu tinha dito mal do Equador sem o ter lido. Era mentira. As pessoas em Portugal gozam de total impunidade. Escrevem um livro e se alguém vem dizer que o livro é mau, tentam intimidar. Disseste mal de mim? Então és bêbado! Ou mais sofisticado: és invejoso. Não percebem que se discute o livro e não quem o escreveu.

Sentem as críticas como ataques pessoais?

Podem sentir o que quiserem. Não estou interessado nos sentimentos de pessoas que não conheço.

Mas pessoalizou. Disse que o protagonista era uma espécie de super-Miguel.

Isso é legítimo. Foi uma hipóstase do Miguel. Se algum dia eu escrever um romance em que o herói é um conselheiro político de grande subtileza, de grande visão, um jornalista extraordinário, um crítico que foi para Oxford, o super-Vasco, as pessoas têm o direito de dizer «o velhote começa a estar cheché». Se disserem que eu só escrevo asneiras, não me ofendo.

Ofendeu-se com a Maria Filomena Mónica quando ela descreveu a vossa vida íntima na autobiografia «Bilhete de Identidade»?

Isso sim. Passou a linha entre o público e o privado. As coisas privadas só se podem escrever com autorização.

Sabia o que ela estava a escrever?

Sabia. Almoçávamos todas as semanas e ela contava-me o que andava a escrever.

Tentou impedi-la?

Sabia que ela estava a escrever as memórias, não em que termos.

Leu o livro?

Li tudo.

Magoou-o?

Magoou. Uma coisa é a crítica a um livro ou a uma crónica. Outra, é ler nos jornais a minha vida privada. É outro universo. Se a Mena Mónica escreve as memórias, é obvio que vai contar alguma coisa sobre a minha vida. Mas a linha de separação entre o público e o privado não deixa de existir. Era amigo da Mena há 35 anos, pensei que percebesse esta coisa básica. Por isso, nunca me preocupei quando soube que estava a escrever as memórias e também por isso fiquei muito espantado quando as li. Ainda bem que isto me sucedeu aos 65 anos, bem casado. Se me tem sucedido aos 40 estava tramado. Cada vez que tivesse um milímetro de intimidade com uma senhora ficava aterrorizado porque ia parar tudo aos jornais.

É o que aconteceu ao Pinto da Costa.

Só acontece a pessoas famosas, é duplamente irritante. Perguntaram-me o que há para fazer aos 65 anos e respondo: há pouco. Mas não tem muita importância. A sociedade está a tomar formas tão horríveis que não me apetece viver muito mais neste mundo.

O que quer dizer?

Se me dissessem «tens mais 20 anos de vida», não, muito obrigado. Nem dez. Mais dez anos a aturar esta gente? Nem pensar.

Tem remorsos?

Não. Nunca fiz grandes patifarias na minha vida. Fiz coisas ridículas e censuráveis. Coisas más, não. Acho eu.

Qual é a sua obra que mais gosta?

Três: O Poder e o Povo, A República Velha e Glória. Em Glória, até certo ponto, consegui reproduzir uma época e um mundo cultural, como se pertencesse a esse mesmo universo. Deu-me um trabalhão enorme.

Apetece-lhe biografar mais alguém?

Estou a escrever a biografia sobre o Eça. Li tudo dele.

Qual é o livro de que mais gosta?

De Os Maias, claro. Por isso mesmo. Não há frieza, nem perspectiva. Há muitas coisas que se vêem pior ao perto do que ao longe.

O que é que o diverte?

Tanta coisa! Divertem-me imenso alguns escritores, os Monty Phynton… e o Eça, claro. Os portugueses, e eu também, são sobretudo sarcásticos. Eu preferia ser irónico. O sarcasmo não me diverte tanto.

Gosta do humor dos Gato Fedorento?

Não. Socialmente e politicamente são neutros.

Portanto, o único português que o diverte é o Eça.

Não! Há muita gente. A pessoa que mais me diverte é a minha mulher. A Constança diverte-me muitíssimo. Ao contrário do que se possa pensar, gosto muito mais das coisas que me divertem do que as que não me divertem.

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terça-feira, novembro 20, 2007

House of Jealous Lovers

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Deixe-nos adivinhar, Pedro

Com quem acha que sonha o Dr. Pedro Arroja
Judeus com chifres
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Urbanidade pusilânime

A Charlotte pergunta: ”Devia ter feito uma peixeirada, é isso? Teria posto esta cimeira ibero-coiso no topo da lista das cimeiras mais exciting de sempre, mas valer-lhe-ia de alguma coisa?”.

Entre a peixeirada e a pusilanimidade vai uma enorme distância. A peixeirada não é para aqui chamada, Charlotte. Zapatero gaguejou politicamente. Perante as acusações de que Aznar era um «fascista», a última coisa que Zapatero deveria ter dito era que «também» ele se encontrava nos «antípodas» de Aznar (um perfeito exagero) e que «só» exigia respeito por este ter sido democraticamente eleito pelo povo espanhol. O «também» e o «só» passaram, de imediato, à condição de omnipresentes. O que não deixa de ser lamentável. Zapatero poderia, e deveria, ter sido mais firme. E a firmeza poderia ter passado por posturas anti-peixeirada como, por exemplo, o silêncio (deixando Chávez a vociferar sozinho) e, de seguida, a apresentação de um voto de protesto à Mesa, presidida pela presidente chilena, pela atitude mal-educada e ofensiva de Chávez. «Valer-lhe-ia de alguma coisa?» Minha cara Charlotte: por vezes a atitude é já um resultado em si. Veja-se o caso do Rei Juan Carlos. Aparentemente, a sua atitude não lhe valeu de nada. A intervenção do rei não impediu Chávez de continuar a falar. Mas ficou para a posteridade. À sua maneira, Juan Carlos relembrou a Chávez que há regras e preceitos de civilidade que há que respeitar, e que as suas atitudes estão na mira do escrutínio público. Por causa do «incidente», fala-se hoje abertamente do que Chávez é (um ditador em potência) e do que Chávez não é (um verdadeiro democrata). O facto de ele ter anunciado uma «profunda revisão» das relações com Espanha (um anuncio pífio e inconsequente) é o sinal de que Chávez recebeu e percebeu o recado. A sua pueril irritação, a prova.

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segunda-feira, novembro 19, 2007

O Chávez vem aí

Por favor: não afrontem, critiquem ou «melindrem» o democrata (eleito, não é?) Chávez. Se ele ofender algum chefe de Estado português com epítetos suaves ou, digamos, mais ou menos rigorosos – tipo «fascista» - respeitem o homem democrata. Nunca, mas nunca, lhe sugiram que se cale. Se o fizerem, ele encetará uma «profunda revisão» das relações com Portugal e nós, sozinhos, com Sócrates, Menezes, Portas, Louçã e Jerónimo de Sousa, não vamos a lado nenhum. Ficam avisados.

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sexta-feira, novembro 16, 2007

Ajudem o Abrupto (petição contra ímpios e cobardes complôs)

Um fantástico post de Pacheco Pereira (a guardar):
"Graças aos seus leitores o Abrupto continua de excelente saúde, isto para usar a fórmula com que a NASA começa os comunicados sobre a sonda Cassini. Continua no topo de todas as medições e de todos os rankings, situação que mantém quase ininterruptamente há quatro anos, caminha para os sete milhões de visitas e para os oito milhões de page views, e tem um Page Rank no Google de 5. Centenas de leitores, centenas mesmo, colaboraram com textos e fotografias, enviados de todo o mundo. O Abrupto tem leitores fiéis na Europa, no Brasil e nos EUA, e em mais de 100 países vem cá gente com alguma regularidade, embora eu não me iluda muito com as estatísticas dos leitores de Madagáscar. Esta nota já muito desactualizada dá uma ideia do que o Abrupto deve aos seus leitores.

Tudo isto sem comentários abertos, um dos meios mais fáceis para obter "audiências", nem os truques técnicos que abundam hoje, usados por conselheiros especializados de como se sobe nas listas, como se falsificam rankings, listas e lugares no Google . Esta situação do Abrupto incomoda muita gente, que utiliza todos os truques do ofício para arranjar listagens com critérios "subjectivos" que forneçam rankings diferentes, que misturam blogues genuínos com falsos blogues pornográficos, na maioria dos casos com o evidente objectivo de evitar que o Abrupto apareça sempre nos primeiros lugares. Quando os instrumentos de medida que permitem comparar blogues, como o Page Rank, o Google Analytics ou o Technorati, teimam em colocar o Abrupto à frente, atacam os mensageiros, que "como todos sabem, não prestam". A prática deliberada de muitos blogues de fazerem ligações a tudo menos ao Abrupto assim como de citar sem "ligar", tem as suas consequências: o Abrupto é muito mais citado do que "ligado", como se verifica quando se faz uma procura pelo nome do blogue ou do seu autor. Porém, como os milhares de leitores quotidianos do Abrupto estão fora destes pequenos círculos interiores da blogosfera, o blogue continua de boa saúde e recomenda-se. No entanto, não precisam de se afadigar tanto, a lei das coisas é que tudo o que sobe tem que descer e é só esperarem sentados.

Há, no entanto, várias coisas que estão mal. Umas dependem muito da minha disponibilidade, do tempo, outras resultam de não conseguir fazer melhor. O Abrupto é um blogue de uma pessoa só e isso faz com que haja dias vazios e dias de recurso. Depois há outras coisas que estão mal e precisam de ser melhoradas quer do ponto de vista gráfico, quer do conteúdo, quer técnico, das funcionalidades do blogue. À medida que puder tentarei fazer corresponder o Abrupto à dedicação e interesse dos seus leitores.

Obrigado."

Façam como eu: linquem o Abrupto.

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Minhas senhoras e meus senhores

I present you Mr Mark E Smith (um dos heróis esquecidos do panque-roque).



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VPV

Uma Farsa
por Vasco Pulido Valente, in Público:

A esquerda e a direita andam por aí muito excitadas por causa de Hugo Chávez, que o rei de Espanha mandou calar na XVII Cimeira Ibero-Americana. No primeiro dia, em que, muito à Fidel, arengou mais 20 minutos do que devia, Chávez resolveu chamar "fascista de todo o tamanho a José Maria Aznar", "magnata do petróleo" a Lula da Silva e "fascismo dos fascismos" à democracia americana. No dia seguinte, enquanto falava Daniel Ortega, da Nicarágua, Chávez recomeçou a insultar Aznar, fora de ordem e com o microfone desligado. Já farto do espectáculo, o rei de Espanha perguntou: "Por que não te calas?". Pergunta razoável, tanto mais que o homem insistia em ignorar as regras da reunião. Mas dizem que a cimeira ficou "gelada" e a "Europa" inteira discute agora a intervenção do rei.

Hugo Chávez é um fenómeno político curioso. A velha esquerda ocidental, incluindo o dr. Mário Soares, fez dele um grande herói. Por antiamericanismo, evidentemente. E, como de costume, não quer ver ou perceber o que se passa na Venezuela (como antes não quis ver ou perceber o que se passava em Cuba). Parece que Fidel ressuscitou, para humilhação do "monstro" e deleite da já falecida "inteligência" progressista. Mas ninguém dá pela farsa em que se meteu. Com uma economia dependente do petróleo, Hugo Chávez não pesa. As palhaçadas revolucionárias com que se tem universalmente distinguido são a prova e o sinal da sua impotência. Está, de facto, reduzido a ameaçar, a berrar, a injuriar. O Brasil, a Argentina e o Chile olham para ele com embaraço e desprezo. Só em Cuba, claro, o admiram.

Fidel foi importante por causa da guerra fria. Era uma base inimiga a uns quilómetros da América. Sozinho, Chávez não existe. Nem ele, nem Ortega, nem Morales, nem o mais que vier. A América pode, sem incómodo, deixar toda essa gente criar na sua terra uma boa miséria "bolivariana" e "socialista", como deixou o "marxismo" arruinar tranquilamente a África. E também não há qualquer razão para Portugal e Espanha participarem em aberrações como a Cimeira Ibero-Americana. A influência da Ibéria na América Latina é quase nula e a "Europa" (que Portugal e a Espanha tentam impressionar) sabe isso perfeitamente. De resto, a "iniciativa privada" que se arranje por si, como lhe compete, e a diplomacia profissional que ature Chávez, com paciência.

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O gajo não gosta de Smiths

Uma das melhores canções de sempre. Primeiro, na versão dos Radiohead (mais fieis não podiam ser):



Este é o link para a versão original.

The Headmaster Ritual
Belligerent ghouls
Run Manchester schools
Spineless swines
Cemented minds

Sir leads the troops
Jealous of youth
Same old suit since 1962

He does the military two-step
Down the nape of my neck

I wanna go home
I don't wanna stay
Give up education
As a bad mistake

Mid-week on the playing fields
Sir thwacks you on the knees

Knees you in the groin
Elbow in the face
Bruises bigger than dinner plates

I wanna go home
I don't wanna stay

Da-da-da ...

Belligerent ghouls
Run Manchester schools
Spineless bastards all ...

Sir leads the troops
Jealous of youth
Same old jokes since 1902

He does the military two-step
Down the nape of my neck

I wanna go home
I don't want to stay
Give up life
As a bad mistake

Please excuse me from gym
I've got this terrible cold coming on
He grabs and devours
He kicks me in the showers
Kicks me in the showers
And he grabs and devours

I want to go home
I don't want to stay...

Da-da-da ...

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Por que não se calam?

Que eu saiba, há uma diferença entre um «cala-te!» e um «por que não te calas?».

Que eu saiba, há uma grande diferença entre: a) mandar calar alguém quando esse alguém está legitimamente na posse da palavra; e b) sugerir a alguém que se cale por estar a violar sem ponta de urbanidade as regras do diálogo e, simultaneamente, a fazer uso de expressões ofensivas.

Quem por estes dias se debruçar sobre algumas opiniões acerca da atitude de Juan Carlos, ficará certamente com a bizarra impressão de que o homem tapou a boca a um desgraçado qualquer que não só discursava legalmente durante o seu tempo de antena como discorria sobre as tragédias humanitárias em África.

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Meu caro Rui

Debrucemo-nos sobre as «amálgamas». Atentemo-nos nas definições. Consideremos o significado das palavras e respeitemo-las. Afinal de contas, as palavras são o «alicerce do debate honesto». Muito bem, caríssimo Rui:
ditador do Lat. Dictatore s. m., antigo magistrado romano que exercia poder absoluto; indivíduo que, temporariamente, concentra em si todos os poderes do Estado; por ext. pessoa autoritária, despótica, que usa de prepotência.

fascista s. 2 gén., pessoa partidária do fascismo; adj. 2 gén., relativo ao fascismo.

fascismo do It. fascismo s. m. 1. ideologia e sistema político e social totalitário introduzido em Itália por Mussolini, cujo emblema era o feixe (fascio) de varas usado pelos antigos lictores romanos, significando a união nacionalista, e que se caracterizou por um controlo estatal da maior parte das actividades, pela concentração do poder na pessoa do ditador e por um nacionalismo exacerbado. 2. movimento, tendência ou ideologia com as mesmas características; 3. regime totalitário; 4. forma de poder que exerce um forte controlo ditatorial.

Rui: passemos ao exercício. Suponhamos, já a caminho da demência, que a Helena Matos - ou moi-même, teu velho conhecido nestas andanças - afirmava: “Chávez é um ditador”. À luz das anteriores definições – e não te esqueças, Rui, as palavras e o seu verdadeiro significado são um «alicerce» – confrontemos essa afirmação com a afirmação de Chávez, de que "Aznar é um fascista".

Partindo do simpático e construtivo pressuposto de que tu sabes que eu sei que tu sabes quem é Chávez e para onde caminha - e pondo de parte o estupidificante formalismo que coloca Chávez no cacifo dos «democratas» porque foi «eleito por sufrágio universal» -, ou seja, em face da realidade «concreta», explica-nos, Rui, quem é que minou «alicerces». Quem é que se distanciou do verdadeiro significado das palavras. Quem lhe faltou ao respeito. Terá sido a expressão «Chávez ditador» ou «Aznar fascista»? E, já agora, se não for pedir muito, uma informação adicional: a quantas mais cambalhotas tuas vamos nós assistir, Rui?

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quarta-feira, novembro 14, 2007

Insultos não, obrigado

O Nelson Rodrigues tinha aquela fase total e acrimoniosa: "Quando os amigos deixam de jantar com os amigos por causa da ideologia, é porque o país está maduro para a carnificina".

Quando um culto e putativo homem da esquerda orgulhosa e moralista - o cronista do Público Rui Tavares – afirma:
"Chávez fez os possíveis por encerrar um canal de televisão venezuelano que lhe era desfavorável. Mas Juan Carlos não está isento de telhados de vidro: ainda há poucos meses foi suspensa a edição de uma revista que publicara uma caricatura desfavorável à Casa Real espanhola"
fazendo a equivalência, por comparação, entre a autoritária censura de Chávez, guiada por motivos politico-ideológicos, contra o dever e o direito de escrutínio de um órgão de comunicação social, e a suspensão, por decisão judicial desencadeada pelo rei Juan Carlos, de um número de uma revista que incluía imagens obscenas do príncipe Filipe de Espanha, entrámos em que domínio: no da comicidade, no do desespero ou no do insulto à inteligência alheia?

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terça-feira, novembro 13, 2007

Não há você sem mim
eu não existo sem você

Estes teus olhos

meu bebé

Eu gosto tanto
Eu tenho encanto
Por teu sorriso
Porque a coisa
Que eu acho louca
É a maravilha
Do teu olhar


Há nos teus olhos
Ilhas distantes e serenas
Há nos teus olhos
Tantos caminhos e trilhas
Há nos teus olhos
Muitas estrelas
Muito, muito silêncio
Muito luar


Teus olhos grandes
Teus olhos tristes
Cuja tristeza
Me fez te amar

Vinicius de Morais

Didas

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Não me lixem

Digam o que disserem, tendo ambos sido eleitos por sufrágio universal, Aznar tem mais de democrata num cabelo do que Hugo Chávez no corpo inteiro. Sim, meus caros, estamos todos carecas de saber que Chávez foi eleito e (bocejo) lidera um país que pertence a um continente outrora subjugado por potências «imperiais» (Espanha e tal). Ocorrem-me duas perguntas. A primeira, no que respeita à forma: a eleição fará dele um democrata? A segunda, no que respeita à moral: os séculos de jugo absolvem-no? A História moderna está repleta de «democratas» que, uma vez no poder, trilharam a via autoritária e totalitária. Chávez é disso um exemplo. O esforço que o homem tem feito para não esconder a forma primária como anda a subverter o sistema democrático, a moldar a Lei a seu proveito, a tomar de assalto as instituições representativas do Estado de Direito, a limitar as entidades responsáveis pelo livre escrutínio público na Venezuela e, por último, a atacar tudo o que seja iniciativa privada com ligações às democracias «burguesas», só pode levantar dúvidas a quem é «lé-lé da cuca» (como diria o Prof. Marcelo). A Venezuela caminha a passos largos para um Estado policial, centralizado, despótico, onde só fala quem está autorizada para tal, liderado por um «índio» que fará tudo para lá ficar até que a morte o remova da cadeira. Não contente com isso, arroga-se no direito de lançar sobre os outros epítetos que lhe pertencem. Perante isto, vêm vocês falar no tom do rei Juan Carlos? Não me lixem.

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De visita à blogosfera

Do poder discricionário das autarquias: assino por baixo.

Do crime mascarado de arte: volto a assinar por baixo.

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Ou vai à pesca

Queria aqui apresentar os meus calorosos cumprimentos a este senhor. Disse de Jorge Palma, e passo a citar, o seguinte: “[l]amento, mas este blogue nunca gostou e dificilmente gostará de Jorge Palma. Marginais, só os de smoking.” Educado. Como sempre. Eu seria bem mais básico. Dou um exemplo: “Jorge: vai dar banho ao cão”. Ou "Jorge, ouve o Peter Hammill e não me chateies." Ou: "Eh pá, Jorge, o La Feria até pode vir a precisar de um tipo como tu." Ou, ainda: "Jorge, o Dylan está a ver? Pronto, vê lá se entendes." Qualquer coisa deste género, escreveria eu.

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segunda-feira, novembro 12, 2007

Thanks man

Graças ao Francisco Mendes da Silva, descobri este pássaro. É bom, sim senhor.




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Página 161

No dia em que li o repto da Isa, tentei pegar num livro. Nada. Encontrava-me temporariamente num planeta sem livros, em missão especial. De regresso a casa, escolhi o primeiro dos três livros que tenho na mesinha de cabeceira e apontei no bloco de notas a 5.ª frase completa da página 161. Eis o resultado:
Let us consider through what clouds and how gropingly we are led to the knowledge of mosto f the things that are right in our hands; assuredly we shall find that it is rather familiarity than knowledge that takes away their strangeness,

But no one now, so tired of seeing are our eyes,
Deigns to look up at the bright temples of the skies,
LUCRETIUS

and that if those things were presented to us for the first time, we should find them as incredible as any others, or more so.

Michel de Montaigne, in The Complete Works (Everyman’s Library)

Obrigado, Isa.

Desafio o Francisco (olha, já foi desafiado pela Carla), o Ricardo (olha, já respondeu ao desafio), a Fernanda (não dá, a Carla antecipou-se), o diego (f*****, já foi desafiado também e, além disso, já não liga a menores), o João (bolas, este não está para estas coisas), o Alberto (idem), o ”Rogério” (népias, o Filipe chegou primeiro), o Nuno (olha, já foi), o Eduardo (não pá, o homem está de licença de parto), o… desisto.

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Pelo contrário

Ao contrário do rei de Espanha, eu não quero que Chávez se cale. Chávez tem que falar. Tudo. Chávez revela-se e revela falando. Quando Chávez fala, as águas clarificam-se. Um Chávez desbocado é utilíssimo: por um lado, escancara a céu aberto o seu fanatismo, a sua hipocrisia, a sua cegueira, o seu marxismo revolucionário e autoritário (para quem, obviamente, o quiser ver); por outro, incomoda os que com ele têm estado oficialmente (como Mário Soares), e põe de sobreaviso os que pelo silêncio ou pelo relativismo político têm pactuado com o ditatorzeco venezuelano. É claro que estou a ser ingénuo ou optimista: a maioria dos que convictamente têm estado com ele, insistirão na teimosia de o branquear. Os outros, calar-se-ão ou teimarão no uso alargado dos «mas», não vá o arrependimento ou a mea culpa dar ares de flic-flac seguido de mortal empranchado com queda facial.

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Cobarde

Foi triste e vergonhoso o entibiamento de Zapatero perante o Sr. Chávez. Este, à sua maneira e impunemente, disse o que lhe apeteceu. Aquele, a apanhar papeis e hesitante, quase que lhe pedia desculpas por lhe estar a exigir «respeito» por um antigo primeiro-ministro espanhol. O próprio argumento de Zapatero – o de que Aznar merece respeito porque foi «eleito pelo povo espanhol» - é pífio e revelador da deslealdade de Zapatero. Zapatero deveria ter defendido o seu antecessor pelo que ele foi e é – um democrata e um homem de Estado, nunca um «fascista» – e não apenas pelo facto de ter sido «eleito pelo povo espanhol». Ao tê-lo dito, pode facilmente depreender-se que Zapatero até concorda com Chávez embora, por questões abstractas, tenha de exigir «respeito». «É que, está a ver Chávez, foi o povo que o pôs lá, não fui eu».

Por muitas diferenças politicas que possam separar Zapatero de Aznar, aquele não era, obviamente, o momento para dizer que se discordava de Aznar. Era o momento para atacar a má-criação de Chávez e as suas ofensivas diatribes. Zapatero foi um cobarde. Embora timidamente – género «toca e foge» - foi o rei Juan Carlos que salvou a honra.

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quinta-feira, novembro 08, 2007

L'aventure commence

Parabéns aos papás!

babar

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quarta-feira, novembro 07, 2007

É hoje

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terça-feira, novembro 06, 2007

Um carro mítico guiado por mítica gente

Guiado, entre outros, pelos grandes Sandro Munari e Marku Allen, o Lancia Stratos produziu o mais belo som de sempre da história dos rallys. Este ainda roda:


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Contado às criancinhas

O debate sobre o Orçamento de Estado de 2008 contado às criancinhas:

Sócrates: Eu sou muito bom, sou muito acutilante (1), tenho muito estilo, sou incisivo (2), arrumo qualquer um, a mim ninguém me toca, o meu governo é o melhor governo desde há… sempre, o país está fantástico (3), as pessoas compreendem-me e logo à noite vou jantar à Bica do Sapato (4).

Notas:

(1) o.m.q. "rijo mas com estilo"

(2) o.m.q. "bruto mas com estilo"

(3) o.m.q. "feliz"

(4) Fogueira das Vaidades junto a estação de Santa Apolónia.

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Auto-Moralistas

Sim, sim: a Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados, de quem recebo amiúde cartas e comunicados, tem todo o direito de existir e terá, certamente, um papel a desempenhar (e, estou certo, um papel importante). Mesmo correndo o risco de ser conotado com os «aceleras», os «irresponsáveis» ou, no limite, os «criminosos» encartados, agradecia, contudo, que a referida associação perdesse, um pouco (vá lá, não é pedir muito), a pesporrência que coroa os seus comunicados e as suas movimentações mediáticas, nomeadamente aquela postura de implacabilidade moral. No triste incidente de atropelamento no Terreiro do Paço, da passada semana, ainda o inquérito estava no início e já a dita associação crucificava a condutora como se a mesma fosse a encarnação do diabo. Faltavam, na altura, alguns elementos elementares (passe o pleonasmo) para a apreciação do caso: o sinal dos peões estava verde ou vermelho? Só peço que afinem o tom e respeitem, também, os «criminosos». Quem nunca errou ou teve azar ao volante que atire a primeira pedra.

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Para já, três *

Sobre a Educação e o respectivo «sistema», tratemos dos mitos:

Mito n.º 1: “A solução não passa por injectar mais dinheiro”.
Só um ignorante ou um idiota útil pode afirmar uma coisa destas. Regra geral, as escolas públicas, em Portugal, estão mal equipadas, têm instalações miseráveis, há falta de pessoal (professores e auxiliares) e qualquer actividade extra-curricular que envolva o mínimo esforço financeiro está votada ao fracasso. Alguns exemplos banais e (re)correntes: a) a escola do ensino básico que a minha filha frequentou, recorria, todos os anos, à caridade dos pais para comprar papel, toner para a fotocopiadora e os mais elementares artigos (canetas, cartolinas, etc.); b) no Inverno, a referida escola raramente tinha dinheiro para comprar a lenha cuja combustão em salamandras subdimensionadas serviria, supostamente, para aquecer as salas de aula (invariavelmente geladas); c) quando uma das auxiliares meteu baixa para cuidar de um filho enfermo, a escola ficou, durante semanas, apenas com uma funcionária para acompanhar o recreio de cerca de oitenta alunos (entre os 6 e os 10 anos), controlar as entradas e saídas da escola, limpar e arrumar as salas de aula, e, finalmente, varrer o chão, recolher e depositar o lixo (foi uma sorte não ter recorrido a baixa psiquiátrica); d) na escola que actualmente a minha filha frequenta, a insonorização, entre salas, é vergonhosa; o ginásio está miseravelmente equipado; as salas de convívio são paupérrimas; as salas de aula são frias no Inverno e um forno no Verão; a turma da minha filha é constituída por 28 alunos (às vezes 30…) e, repare-se, foi considerada a melhor escola de Évora.
A solução pode passar pela reorganização das escolas – ao nível das competências e da autonomia, por exemplo – e por uma melhor gestão dos recursos. Mas passa, invariavelmente, por mais dinheiro. Como diria Shakespeare, sem ovos não se fazem hamlets.

Mito n.º 2: “As escolas privadas são, por regra, melhores que as escolas públicas.”
À excepção de uma dúzia de escolas de «elite» (onde, de facto, as instalações e os meios, a qualidade dos professores, o reduzido numero de alunos por turma e a própria selecção dos alunos fazem toda a diferença), as diferenças são marginais e, nalguns casos, as posições invertem-se. A questão é diversa: retirando as tais escolas de «elite», os resultados são genericamente maus. E isso deve-se a questões mais profundas e endémicas. A geração actual (de professores, gestores, auxiliares, etc.) é filha de um sistema que não premiou a excelência, promoveu a mediocridade, permitiu o regabofe, institucionalizou o eduquês e entreteve-se a mascarar estatisticamente o insucesso escolar.

Mito n.º 3: “A condição social do aluno não tem qualquer, ou tem muito pouca, influência sobre a sua performance escolar”
É óbvio que sim. Os alunos provenientes das classes alta ou média-alta têm uma maior probabilidade de serem melhor educados (em casa) por pais que, também eles, transitaram de meios mais favorecidos (materiais e intelectuais). Um aluno que seja bem educado em casa tem maior probabilidade de ser organizado, de respeitar a autoridade, de pensar pela própria cabeça (e não pela do bando) e de se aplicar. Não quero com isto dizer que não há meninos pobres inteligentes e bons alunos, nem meninos ricos burros e péssimos alunos. Estou a falar de probabilidades e correlações, empiricamente evidentes. Nem estou a defender que a escola anule e substitua a família na educação das crianças (por inépcia desta). Um sistema de ensino público tem a obrigação de, controlada e moderadamente, ou seja, dentro das suas limitações, transmitir conhecimento e educação a quem não a conhece ou conhece mal. O problema é que este desígnio, ou propósito, tem limites. Não se pode exigir da escola aquilo que ela não pode dar. É um equilíbrio difícil e muitas vezes precário, mas que tem de ser tentado. Mas nunca, obviamente, pela via do facilitismo e da falta de autoridade. O que nos remete, claro, para a falência dessa entidade meio obtusa, no dias que correm, chamada «família» - onde putativamente deveria haver disciplina, uma hierarquia, dedicação educacional e emocional - razão maior do descalabro de todo o sistema.


* originalmente publicado aqui.

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